Mas quem foi este grande homem?
O caminhão saltava ao longo da estrada tortuosa na montanha, gemendo em protesto
contra o peso de passageiros e bagagem. O motorista agarrava a direção, enquanto seus olhos
esforçavam-se para perscrutar a escuridão. O missionário Leslie Shedd, sua esposa Della e seus
quatro pequenos filhos logo estariam dizendo adeus à Bolívia. Estavam sendo conduzidos à estação
ferroviária na primeira etapa de uma longa viagem por terra para o Chile, de onde embarcariam em
um navio para Nova Iorque.
Hudson, Helen e Russell, as três crianças maiores dos Shedds, estavam espremidas na parte de trás,
junto com a carga do caminhão. Logo o veículo embalou-os, e eles adormeceram. Sonhavam com as
aventuras que teriam durante a licença nos Estados Unidos.
Cansado após um longo dia de trabalho, o motorista também dormiu. O caminhão rapidamente saiu
da estrada. Não houve tempo para reagir. Caído na vala e extremamente carregado, o veículo
tombou e parou com as rodas girando no ar frio da noite.
Leslie e Della Shedd imediatamente pensaram o pior: nossos filhos foram esmagados pela bagagem.
O silêncio na parte traseira do caminhão parecia confirmar seus temores. Inspecionando mais de
perto, contudo, perceberam que as crianças continuavam dormindo. Nem mesmo o acidente os
havia despertado. Ninguém estava machucado.
As raízes Latino Americanas:
Recordando esses eventos da infância, o Dr. Russell Shedd crê que Deus preservou sua vida com um
propósito missionário. Filho de missionários, suas raízes latino-americanas, incluindo o nascimento na Bolívia, era a maneira pela qual Deus o estava preparando para uma vida de serviço no Brasil.
A linhagem da família Shedd tem uma história magnífica de serviço cristão. Pesquisas remontam o
nome Shedd à Inglaterra do século XVII.1 Daniel Shed, um dos ancestrais, esteve entre os 25 mil
puritanos ingleses que decidiram atravessar o Atlântico entre 1630 e 1642 para uma vida nova na
América do Norte.
O teólogo presbiteriano W. G. T. Shedd, outro parente distante, era reputado como o "último
teólogo americano realmente expressivo a aderir com obstinação [...] à doutrina de um inferno
literal com castigo futuro interminável".2 Ele foi professor de teologia sistemática no famoso Union
Theological Seminary, em Nova Iorque, no final do século XIX.
A mãe de Russell Shedd foi educada na mesma pequena denominação presbiteriana (com cerca de
50 igrejas) do evangelista Billy Graham. Comenta-se que este, aos 17 anos, foi à igreja rural que ela
freqüentava, perto de Charlotte, na Carolina do Norte, para solicitar a ordenação. Esta lhe foi negada
pelos presbíteros, que acharam Billy Graham muito jovem e com poucos conhecimentos.
Uma família de mentalidade missionária:
Russell Philip Shedd nasceu em 10 de novembro de 1929 em Aiquile, na Bolívia, cerca de sete anos
depois de seus pais terem iniciado ali a carreira missionária. Era o terceiro de quatro filhos. Seus dois
irmãos mais velhos também buscaram ministérios transculturais. Hudson, o primogênito, recebeu
seu nome de Hudson Taylor, missionário pioneiro na China. Atualmente, é o diretor da Gospel Mission of South America e já pregou o evangelho na Bolívia, no Chile e no Uruguai. Sua irmã Helen e o marido, David Ekstrom, têm atuado como tradutores e professores da Bíblia na Guatemala durante mais de 40 anos com a Central America Mission. Phyllis, a irmã mais nova de Russell Shedd, casou-se com um professor da Lexington Christian High School, em Lexington, estado de Massachussetts, nos Estados Unidos.
A educação primária de Russell Shedd deu-se em uma escola missionária na Bolívia. Ele foi para os
Estados Unidos no início da adolescência para completar seus estudos de 2? grau na Westervelt
Home e na Wheaton Academy, na área metropolitana de Chicago, numa transição natural para o
Wheaton College, onde, em 1949, recebeu o grau de bacharel. Entre seus colegas de faculdade estava
James Elliot (martirizado pelos índios auca do Equador). Ele continuou em Wheaton a fim de obter o
grau de mestre em estudos do Novo Testamento, na Wheaton College Graduate School.
Russell Shedd completou então seus estudos para receber o grau de mestre em teologia (M.Div.,
conhecido na época como B.D.) no Faith Seminary, na Filadélfia, em 1953. Quando tinha 25 anos,
recebeu o grau de doutor (Ph.D.) na renomada Universidade de Edimburgo, na Escócia. Sua tese
analisava o uso do apóstolo Paulo das concepções judaicas e do Antigo Testamento acerca da
solidariedade da raça, tema este transformado em livro.
Ao voltar para os Estados Unidos em 1955, Russell Shedd aceitou o cargo de professor no
Southeastern Bible College, em Birmingham, no estado do Alabama. Ali conheceu a aluna Patricia
Dunn. A amizade entre eles floresceu até chegar a um compromisso para a vida inteira. Casaram-se
em 22 de junho de 1957 e passaram a lua-de-mel na Guatemala.
Com destino a Portugal:
Missões constituíam o centro dos planos dos recém-casados. Seis meses após o casamento, foram
designados pela Conservative Baptist Foreign Mission Society (CBFMS) para o serviço missionário em Portugal. A diretoria da missão tinha apenas 15 anos naquela época, mas experimentara um
crescimento vertiginoso no auge da expansão após a Segunda Guerra Mundial, sendo diretamente
sustentada por centenas de igrejas batistas que acreditavam na aplicabilidade da Grande Comissão
de Cristo nos dias de hoje. Os jovens Shedds passaram oito meses entre essas igrejas,
compartilhando suas idéias para o treinamento de liderança em Portugal e obtendo compromissos
de sustento para seu empreendimento missionário. No início de 1959, eles avançaram na experiência
missionária quando aceitaram um convite para iniciar uma igreja em Long Island. Ela existe ainda
hoje como a próspera Calvary Baptist Church de Port Jefferson. Os Shedds chegaram em Portugal em
agosto de 1959 para iniciar o ensino no seminário batista em Leiria.
Cada membro da equipe missionária portuguesa da CBFMS devia lidar com a responsabilidade
ministerial dos outros, além da ênfase em seu trabalho principal. Russell Shedd recebeu o encargo de
acompanhar um ministério de literatura em formação, tarefa que ele acolheu com prazer. Era um
complemento natural para seu interesse em educação teológica. Esse ministério foi denominado
Edições Vida Nova. Havia sido fundado com vistas ao fornecimento de textos teológicos básicos e de
obras de referência bíblica para estudantes, professores e pastores. Na época, os livros teológicos
eram artigo raro em Portugal.
Nos três anos que se seguiram, Russell Shedd sentiu duas sérias limitações impostas ao programa de
publicações. Primeira, os altos custos de impressão reduziam imensamente o número de títulos
novos que podiam ser produzidos. Segunda, os poucos livros eram vendidos muito lentamente na
minúscula comunidade evangélica portuguesa.
Após muitas orações e deliberações, ele e seus colegas decidiram que esses problemas poderiam ser
resolvidos olhando-se no sentido sudoeste, para o outro lado do Atlântico. O Brasil compartilhava a
língua de Portugal, tinha uma comunidade evangélica grande, que crescia rapidamente, e oferecia
baixos custos de produção editorial. O primeiro plano do grupo era que Russell Shedd ficaria dois
anos no Brasil tempo suficiente para implantar uma ação editorial em São Paulo e então voltaria para
ministrar em Portugal. Três anos depois do dia em que os Shedds chegaram em Portugal, eles
pisaram pela primeira vez no Brasil. Era agosto de 1962.
Plantando a semente:
Tão logo estabelecido em São Paulo, Russell Shedd encontrou dois irmãos brasileiros interessados
em formar uma sociedade editorial. Após diversos anos, a Edições Vida Nova (EVN) brasileira foi
reorganizada como empresa sem fins lucrativos. A missão de Russell Shedd nos Estados Unidos
proporcionou grande parte do investimento financeiro inicial.
O ano seguinte foi um marco na história de EVN, lembra Russell Shedd, pois foi durante esse período
que Deus plantou em seu coração a semente da Bíblia Vida Nova. De forma irônica, a concepção da
Bíblia de estudo, que tem edificado a vida de tantos obreiros cristãos no Brasil e em todo o mundo,
originou-se em um esquema que visava lucro.
Enquanto os sócios de Russell Shedd procuravam maneiras de lucrar no negócio editorial, um deles
teve a idéia de adquirir Bíblias baratas da Sociedade Bíblica do Brasil e substituir as capas simples por capas de couro luxuosas, as quais poderiam ser vendidas com uma margem de lucro
substancialmente maior. Os pensamentos de Shedd fluíam em outra direção: "Se vamos negociar
Bíblias, por que não produzimos uma obra nossa, com notas explicativas, referências a outros textos
e auxílios didáticos?". Não havia nada semelhante no Brasil; portanto, uma Bíblia de estudo seria
imensamente útil para pastores e obreiros leigos. Russell Shedd não imaginava que sua idéia ficaria em gestação durante 14 anos, antes do verdadeiro nascimento da Bíblia Vida Nova. É importante observar que o projeto da Bíblia foi o que talvez mais pesou na sua decisão de ficar no Brasil, em vez de retornar para o ministério em Portugal.
Obra do Inimigo:
Pelo menos alguns problemas que perseguiram o projeto da Bíblia foram sem dúvida obra do
inimigo, que podia ver o imensurável valor de tal livro nas mãos de obreiros cristãos de língua
portuguesa. O papel para a impressão da Bíblia foi o primeiro obstáculo. Com fundos emprestados
da CBFMS, Russell Shedd comprou na Inglaterra papel bíblia tipo "Índia", da melhor qualidade.
Naquela época, não havia impostos para importar Bíblias para o Brasil. Acreditava-se que o papel
bíblia também passaria livremente nas alfândegas brasileiras. "Mas não era assim. Foi um terrível
engano", diz ele. A carga chegou ao Brasil em 1967. Embora oficialmente o papel tivesse sido
importado como doação, foi apreendido em Santos. Em 1976, ele viu com seus próprios olhos o
papel armazenado em um depósito alfandegário. Finalmente, foi leiloado e revendido à casa
publicadora da Convenção Batista Brasileira, no Rio de Janeiro.
O segundo obstáculo foi o processo técnico de produção dos comentários e das notas homiléticas da
Bíblia, escritos por Russell Shedd, colegas missionários e líderes de igrejas brasileiras. Depois de
compostas fotograficamente, as notas perdiam a cor, tornando extremamente difícil a obtenção de
negativos nítidos para a impressão. Shedd comentou: "Se Paul Wilder (missionário americano
independente) não tivesse ajudado, talvez nunca publicássemos a Bíblia!". Em 1975, Wilder levou
pessoalmente os originais para El Camino Press, na Califórnia, onde a Bíblia seria impressa. Quando os especialistas gráficos explicaram que não conseguiriam usar originais tão apagados, Wilder decidiu ficar nos Estados Unidos a fim de buscar uma solução criativa para o problema. Durante um ano inteiro, ele reforçou os originais descoloridos por meio de um processo fotográfico, retocando à mão os negativos um por um. Por incrível que pareça, os filmes usados para a primeira Bíblia de formato grande são usados até hoje!
Russell Shedd considera a conclusão da Bíblia Vida Nova e sua popularidade entre os cristãos
brasileiros uma das maiores alegrias de sua carreira missionária. "Em meus sonhos mais
entusiásticos, nunca pude imaginar que (a Bíblia) venderia tão facilmente", ele diz. "Eu achava que
levaria anos para vender uma única edição." A Bíblia está agora em sua 17a. edição. Embora outros
editores brasileiros tenham produzido Bíblias de estudo semelhantes nos últimos anos, a Bíblia Vida
Nova continua muito procurada. Mais de 200 mil exemplares foram vendidos. Russell Shedd diz: "As
pessoas comentam constantemente como (a Bíblia) tem sido importante para elas".
Para muitos cristãos brasileiros, o nome Russell Shedd é praticamente sinônimo de Edições Vida
Nova. Desde seu início humilde em Portugal, EVN cresceu e tornou-se uma das maiores editoras
evangélicas do Brasil. Atualmente, comercializa mais de 175 livros. Mas Russell Shedd ainda enxerga muitos campos inexplorados na literatura evangélica brasileira, e diz: "Ainda temos muito que fazer para melhorar a qualidade de nossa literatura. A área de línguas originais da Bíblia precisa de ajuda. Temos muito pouco sobre os pais da igreja. Muito mais poderia ser publicado sobre os conceitos da Nova Era, do universalismo, do pluralismo religioso, sobre hermenêutica, além de comentários de alto nível".
Moldando uma geração:
Embora a publicação de livros no Brasil fosse uma tarefa importante para Russell Shedd, ela não
estava no centro de seu coração. Em 1965, quando recebeu um convite para lecionar na Faculdade
Teológica Batista de São Paulo (FTBSP), ele reconheceu a clara orientação de Deus. "Era o que eu
queria fazer, para o que originalmente me preparei", ele diz. Russell Shedd ensina principalmente
nas áreas de Novo Testamento e de hermenêutica, atuando também no programa de mestrado.
Nas décadas de 60, 70, 80 e 90, os alunos sempre se matricularam animados para suas aulas não por
serem academicamente fáceis, mas porque queriam assimilar um pouco da análise penetrante das
Escrituras feita por ele. Russell Shedd tornou-se conhecido como o professor que podia apontar a
mensagem central de uma passagem bíblica, pois estava ativamente em contato com seu Autor. Seu
espírito humilde sempre lhe permitiu orientar os alunos na aplicação direta da Palavra de Deus em
suas vidas e ministérios. Suas raízes latino-americanas parecem colocá-lo em vantagem sobre outros
professores estrangeiros quanto à identificação das necessidades e dos problemas dos alunos.
Ary Velloso, formado pela FTBSP e pastor da Igreja Batista do Morumbi, em São Paulo, conta uma
história pungente que revela a comunicação de Russell Shedd com os alunos e também uma faceta
de seu caráter. Ary Velloso diz que um dia Russell Shedd recebeu um misterioso depósito em sua
conta bancária. Em vez de apressar-se para gastar o dinheiro, discutiu o assunto com a esposa. "Fico
pensando no propósito de Deus para esse dinheiro", ele refletiu.
Algum tempo depois, em uma noite no seminário, aconteceu de ele chegar cedo na sala de aula,
onde havia apenas um aluno, ajoelhado, perto de sua cadeira, chorando. Ao cumprimentá-lo, ele viu
que o aluno havia chorado e perguntou: "Qual é o problema?". O aluno explicou que um de seus
filhos havia morrido de leucemia. Agora, seu segundo filho demonstrava sintomas semelhantes. O
médico havia prescrito determinado exame para o menino, mas ele não tinha condições de pagá-lo.
Russell Shedd sorriu. "Suas orações já foram atendidas", disse ao aluno. "Deus colocou o dinheiro em
minha conta justamente para sua necessidade." Sentando-se, preencheu um cheque referente à
quantia necessária e entregou-o ao aluno espantado.
Outro ex-aluno da FTBSP, Eulália de Andrade Pacheco Kregness, lembra que ele sempre tinha tempo
para ouvir os alunos. "No corredor, na sala de aula ou em seu escritório, ele parava para conversar",
ela conta. Muitos compartilhavam pedidos de oração. Semanas ou meses depois, ele perguntava
especificamente sobre o que havia acontecido. "Você sabia que ele se importava e que estivera
orando por aquele pedido", diz ela. O estilo expositivo de ensino e de pregação do Doutor Shedd moldou toda uma geração de futuros líderes eclesiásticos brasileiros. Ele comenta: "Os jovens formados de nosso seminário têm uma perspectiva muito diferente daquela da geração mais antiga. Eles são mais abertos, desejam trabalhar com outros grupos evangélicos, são mais flexíveis em estilos de culto...". Embora não seja o único responsável por essa tendência, Russell Shedd certamente exerceu um papel fundamental.
A dedicação de Russell Shedd à educação teológica no Brasil também é provada por sua rejeição de
convites para lecionar em seminários nos Estados Unidos. Em 1967, foi convidado a lecionar em um
grande seminário batista em Denver, no estado do Colorado. Durante as licenças regularmente
programadas nos Estados Unidos, ele decidiu tentar esse trabalho como experiência. Ensinou ali por
dois anos em licenças separadas. Durante esse período, Shedd dizia: "Nunca senti que é isso que
Deus quer que façamos". Ele sempre voltava para o Brasil com o sentimento de que "sou mais útil
aqui (no Brasil)".
Outra escola, a Trinity Evangelical Divinity School, nos arredores de Chicago, concedeu-lhe
oportunidade de lecionar durante sua licença de um ano. O Bethel Theological Seminary, em St. Paul,
no estado de Minnesota, também queria que o Dr. Shedd se candidatasse para fazer parte da
diretoria da escola, mas ele declinou o convite. Depois teve oportunidade de lecionar no Wheaton
Graduate School, onde atuou durante um semestre como professor de missões. Ele diz: "Quando
(Patrícia e eu) orávamos sobre isso, os convites de fato reforçavam o chamado de Deus para missões
no Brasil".
Um conferencista requisitado:
Lecionando havia dez anos na FTBSP, Russell Shedd recebeu um convite para falar em uma
conferência missionária nacional patrocinada pela Aliança Bíblica Universitária (ABU) em Curitiba. Erasua primeira participação em uma conferência de âmbito nacional, e isso marcou o início de um
ministério como orador que o levaria às fronteiras do Brasil e ao exterior.
Depois de falar no congresso Geração 79, da Mocidade Para Cristo, "sempre houve mais convites
(para pregações e preleções) do que eu podia aceitar". Muitos pastores que tentaram agendá-lo
para seus púlpitos descobriram que é necessário planejar com pelo menos um ano de antecedência.
A influência de Russell Shedd muitas vezes estendeu-se para fora do Brasil. De 1982 a 1988, por
exemplo, ele foi membro da comissão teológica da World Evangelical Fellowship. Durante esses anos, escreveu diversos capítulos para livros sobre oração, justificação, culto, igreja e justiça social.
Em 1986, ele foi à Índia para uma série de reuniões sob o patrocínio da Visão Mundial. Ele também
fez muitas preleções em Cingapura e no Havaí para o Haggai Institute, organização evangélica
internacional para treinamento de líderes. No Brasil, tem prestado serviços à comissão de tradução
da Nova Versão Internacional baseada na Bíblia mais vendida nos Estados Unidos.
Suas aulas e sermões bíblicos muitas vezes tornaram-se base para livros. Tão Grande Salvação, sua
primeira obra em português, nasceu de mensagens sobre o livro de Efésios apresentadas na
conferência da ABU, em Curitiba. Desde então, ele produziu nove outros livros e dezenas de artigos
para periódicos.
Filhos em dois continentes:
Embora muitos comparem o processo de escrita de um livro com a gravidez e o nascimento, Russell
Shedd tem outros filhos que ele considera mais importantes. "Tem sido uma grande alegria", ele
comenta, "ver nossos cinco filhos andando com o Senhor e procurando servi-lo".
Timothy, o primogênito de Shedd, foi o único filho nascido nos Estados Unidos, antes de sua
chegada em Portugal. Ele leciona matemática em uma escola pública em Englewood, no estado do
Colorado, e tem duas filhas.
Nathanael, nascido em Portugal, é casado e programador de dados no Wheaton College, em
Wheaton, estado de Illinois. Peter também nasceu em Portugal. É casado e reside na Alemanha.
Helen é solteira e mora com seus pais em São Paulo. Ela ministra a líderes que trabalham com
crianças de rua e é aluna do curso de mestrado em teologia do Novo Testamento na FTBSP.
Joy estuda enfermagem. É casada e mora na Alemanha. Ela serviu durante dois anos no navio
missionário Doulos, onde conheceu o marido.
Certo enigma:
Mais de 30 anos no país deram a Russell Shedd uma perspectiva singular da igreja evangélica
brasileira. Um dos avanços emocionantes durante esse período tem sido o interesse do país em
missões mundiais, que vem crescendo intensamente. Ele cita Edison Queiroz, um de seus ex-alunos
na FTBSP, como pioneiro desse movimento. Edison Queiroz foi presidente do COMIBAM (Comissão Missionária ibero-americana), organização formada para promover o treinamento e o envio de missionários transculturais latino-americanos.
Outra tendência que Russell Shedd ressalta é um interesse nacional em reavivamento. Ele percebe
"uma expectativa, uma espera no Senhor, e algumas coisas incomuns acontecendo" em igrejas onde
ministrou. Finalmente, ele identifica uma abertura maior quanto a grupos carismáticos entre as denominações protestantes tradicionais. "O muro divisório está ruindo", ele diz. "Hoje muitas igrejas estão dispostas a reconsiderar sua postura em relação ao movimento carismático."
Ele mesmo tem constituído certo enigma para batistas brasileiros tradicionais, com quem está
associado no nível de igrejas locais. Embora seja firme defensor das doutrinas batistas baseadas na
Bíblia, ele desafia as tentativas de colocar um rótulo denominacional em sua teologia. Para ele, a
fidelidade às Escrituras é mais importante do que a lealdade a um grupo ou a outro. Há quem fique
perplexo com essa abordagem que não se prende a regras, mas a maioria das pessoas tem profundo
respeito por seu caráter cristão. Mesmo alguns que discordam de suas posições teológicas, sem
dúvida ouvem atentamente sua interpretação de passagens bíblicas centrais.
Russell Shedd parece ter a rara capacidade de discordar de maneira gentil. Um bom exemplo dessa
qualidade são suas idéias acerca da escatologia. Ao mesmo tempo em que ressalta os perigos da
concepção liberal da história chamada "escatologia realizada", ele critica a linha escatológica de Hal
Lindsey, que sugere que "os eventos do fim não têm realmente nada a ver conosco". A verdade, ele
salienta, encontra-se em outro lugar, em uma perspectiva que despreza uma cronologia detalhada
de eventos e enfatiza a responsabilidade sensata da igreja pela evangelização mundial diante da
volta de Cristo, após um período de sofrimento e martírio.
Sua despedida:
Após uma intensa luta contra um câncer, na madruga do dia 26 de novembro de 2016. Dr. Russel falece aos 87 anos. Seu estado de saúde tinha piorado muito e ele três dias antes havia pedido a equipe médica que fosse transferido para a sua casa, pois sabia que seus últimos momentos estavam chegando e ele gostaria de estar ao lado do seus e de sua esposa. A confirmação de seu falecimento veio através de uma carta publica divulgada pela Editora Nova Vida.
Carta esta que o leitor pode ler na integra abaixo:
"Com enorme pesar, informamos que nosso fundador e presidente emérito, o dr. Russell Phillip Shedd, faleceu na madrugada de hoje.
Juntamente com a igreja brasileira, lamentamos profundamente a perda deste servo valoroso, que deixará uma lacuna irreparável. Ainda assim, alegramo-nos no Senhor por saber que ele, tal como o Apóstolo Paulo, combateu o bom combate, terminou a carreira, guardou a fé e tem reservada para si a coroa da justiça.
Fiel mensageiro da Palavra, o dr. Shedd foi incansável em seu ministério, tendo percorrido todo o Brasil como conferencista e professor, pregando e palestrando em congressos, igrejas, seminários e faculdades de Teologia. Foi exemplo extraordinário de uma vida de amor à Palavra. A literatura e o ensino teológicos no Brasil devem muito à incansável, inspiradora e comovente dedicação desse grande servo de Deus."
Ele deixa a esposa, dona Patricia Shedd, com quem foi casado por 59 anos, além de 5 filhos (Timothy, Nathanael, Pedro, Helen e Joy), 14 netos (Laura, Kelley, Rebecca, Katherine, Leander, Cayenne, Henry, Jonathan, Michael, Stephanie, Evelyn, Scott, Susan e Katie) e uma bisneta (Izabella).
O velório será a partir de amanhã (27/11) na Igreja Bíblica Evangélica da Comunhão, Rua Tito 240, Vila Romana – São Paulo. O enterro será na próxima quarta-feira (30/11) no Cemitério da Paz, Rua Doutor Luiz Migliano, 644, São Paulo.
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Salvação não se perde
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