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terça-feira, 27 de outubro de 2015
Ein Fest burg unser Got (Castelo Forte) " O Hino da Reforma''
Assinado por M. Lute |
Na ópera "Os Huguenotes" de Giacomo Meyerbeer, é utilizada diversas vezes como Leitmotiv. É também citada na ópera "Friedenstag", de Richard Strauss.
"Castelo Forte" é um dos hinos preferidos da tradição Protestante. É considerado o Hino de Batalha da Reforma Protestante, devido ao efeito produzido no apoio à causa dos Reformistas. John Julian declina quatro teorias sobre sua origem:
- Heinrich Heine: foi cantado por Martinho Lutero e seus companheiros, quando entraram em Worms em 16 de abril de 1521, para a Dieta;
- K.F.T. Schneider: foi um tributo ao amigo de Lutero, Leonhard Kaiser, que foi executado como um mártir protestante, em 16 de agosto de 1527;
- Jean-Henri Merle d'Aubigné: foi cantado pelos príncipes luteranos alemães, quando entraram em Augsburg para a Dieta em 1530, na qual a Confissão de Augsburgo foi apresentada; e
- a opinião de que foi composto em conexão com a Dieta de Speyer (1529), na qual os príncipes luteranos alemães apresentaram o seu "protesto" ao Imperador Carlos V, que queria reforçar o seu Édito de Worms (1521).
A tradição diz que o Rei Gustavus Adolphus of Sweden fez executar esse hino, enquanto suas tropas marchavam para a Guerra dos Trinta Anos. O Salmo já tinha sido traduzido para a língua sueca, em 1536. Muitos séculos depois, a canção se tornaria o hino nacional do antigo movimento socialista sueco.
Melodia:
Castelo Forte, melodia rítmica |
Em 1906, Edouard Rœhrich escreveu, "A forma autêntica dessa melodia difere, significativamente, da forma cantada na maioria das igrejas protestantes e da que figura na ópera "Os Huguenotes", de Meyerbeer. ... A forma original é poderosamente ritmada, de modo a se submeter a todas as nuances do texto ..." (E. Rœhrich, Les Origines du Choral Luthérien. (Paris: Librairie Fischbacher, 1906), 23)
Enquanto no século XIX os musicólogos questionavam a autoria desse hino como sendo ou não de Lutero, essa opinião foi modificada nas mais recentes pesquisas; hoje é consenso que Lutero realmente compôs essa famosa melodia, para ser cantada com o referido texto.
Texto:
Em Alemão (original)
1. Ein’ feste Burg ist unser Gott, Ein' gute Wehr und Waffen; Er hilft uns frei aus aller Not, Die uns jetzt hat betroffen. Der alt’ böse Feind, Mit Ernst er’s jetzt meint, Groß’ Macht und viel List Sein’ grausam’ Rüstung ist, Auf Erd’ ist nicht seins Gleichen. |
3. Und wenn die Welt voll Teufel wär’ Und wollt’ uns gar verschlingen, So fürchten wir uns nicht so sehr, Es soll uns doch gelingen. Der Fürst dieser Welt, Wie sau’r er sich stellt, Tut er uns doch nicht, Das macht, er ist gericht’t, Ein Wörtlein kann ihn fällen. |
2. Mit unsrer Macht ist nichts getan, Wir sind gar bald verloren; Es streit’t für uns der rechte Mann, Den Gott hat selbst erkoren. Fragst du, wer der ist? Er heißt Jesus Christ, Der Herr Zebaoth, Und ist kein andrer Gott, Das Feld muss er behalten. |
4. Das Wort sie sollen lassen stahn Und kein’n Dank dazu haben; Er ist bei uns wohl auf dem Plan Mit seinem Geist und Gaben. Nehmen sie den Leib, Gut, Ehr’, Kind und Weib: Lass fahren dahin, Sie haben’s kein’n Gewinn, Das Reich muss uns doch bleiben. |
Versão em Português:
J. Eduardo Von Hafe (em Português)
1. Castelo forte é nosso Deus. Espada e bom escudo; Com seu poder defende os seus Em todo transe agudo. Com fúria pertinaz Persegue Satanás, Com artimanhas tais E astúcias tão cruéis, Que iguais não há na terra. |
3. Se nos quisessem devorar Demônios não contados, Não nos podiam assustar, Nem somos derrotados. O grande acusador Dos servos do Senhor Já condenado está; Vencido cairá Por uma só palavra. |
2. A nossa força nada faz, Estamos, sim, perdidos; Mas nosso Deus socorro traz E somos protegidos. Defende-nos Jesus, O que venceu na cruz, Senhor dos altos céus; E, sendo o próprio Deus, Triunfa na batalha. |
4. Sim, que a palavra ficará, Sabemos com certeza, E nada nos assustará Com Cristo por defesa. Se temos de perder Filhos, bens, mulher; Embora a vida vá, Por nós Jesus está E dar-nos-á seu reino. |
As 95 Teses de Martinho Lutero.
Em 31 de Outubro
de 1517, Martinho Lutero afixou na porta da capela de Wittemberg 95
teses que gostaria de discutir com os teólogos católicos, as quais
versavam principalmente sobre penitência, indulgências e a salvação pela
fé. O evento marca o início da Reforma Protestante, de onde
posteriormente veio a Igreja Presbiteriana, e representa um marco e um
ponto de partida para a recuperação das sãs doutrinas.
Movido pelo amor e pelo empenho em prol do esclarecimento da verdade
discutir-se-á em Wittemberg, sob a presidência do Rev. padre Martinho
Lutero, o que segue. Aqueles que não puderem estar presentes para
tratarem o assunto verbalmente conosco, o poderão fazer por escrito.
Em nome de nosso Senhor Jesus Cristo. Amém.
1ª Tese
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Dizendo
nosso Senhor e Mestre Jesus Cristo: Arrependei-vos...., certamente quer
que toda a vida dos seus crentes na terra seja contínuo arrependimento.
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2ª Tese
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E
esta expressão não pode e não deve ser interpretada como referindo-se
ao sacramento da penitência, isto é, à confissão e satisfação, a cargo
do ofício dos sacerdotes.
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3ª Tese
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Todavia
não quer que apenas se entenda o arrependimento interno; o
arrependimento interno nem mesmo é arrependimento quando não produz toda
sorte de modificações da carne.
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4ª Tese
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Assim
sendo, o arrependimento e o pesar, isto é, a verdadeira penitência,
perdura enquanto o homem se desagradar de si mesmo, a saber, até a
entrada desta para a vida eterna.
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5ª Tese |
O
papa não quer e não pode dispensar outras penas, além das que impôs ao
seu alvitre ou em acordo com os cânones, que são estatutos papais.
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6ª Tese
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O
papa não pode perdoar divida senão declarar e confirmar aquilo que Já
foi perdoado por Deus; ou então faz nos casos que lhe foram reservados.
Nestes casos, se desprezados, a dívida deixaria de ser em absoluto
anulada ou perdoada.
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7ª Tese
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Deus a ninguém perdoa a dívida sem que ao mesmo tempo o subordine, em sincera humildade, ao sacerdote, seu vigário.
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8ª Tese
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Canones poenitendiales,
que não as ordenanças de prescrição da maneira em que se deve confessar
e expiar, apenas aio Impostas aos vivos, e, de acordo com as mesmas
ordenanças, não dizem respeito aos moribundos.
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9ª Tese
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Eis
porque o Espírito Santo nos faz bem mediante o papa, excluído este de
todos os seus decretos ou direitos o artigo da morte e da necessidade
suprema
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10ª Tese
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Procedem desajuizadamente e mal os sacerdotes que reservam e impõem aos moribundos poenitentias canonicas ou penitências para o purgatório a fim de ali serem cumpridas.
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11ª Tese
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Este
joio, que é o de se transformar a penitência e satisfação, Previstas
pelos cânones ou estatutos, em penitência ou penas do purgatório, foi
semeado quando os bispos se achavam dormindo.
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12ª Tese
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Outrora canonicae poenae,
ou sejam penitência e satisfação por pecadores cometidos eram impostos,
não depois, mas antes da absolvição, com a finalidade de provar a
sinceridade do arrependimento e do pesar.
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13ª Tese
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Os
moribundos tudo satisfazem com a sua morte e estão mortos para o
direito canônico, sendo, portanto, dispensados, com justiça, de sua
imposição.
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14ª Tese
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Piedade
ou amor Imperfeitos da parte daquele que se acha às portas da morte
necessariamente resultam em grande temor; logo, quanto menor o amor,
tanto maior o temor.
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15ª Tese
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Este
temor e espanto em si tão só, sem falar de outras cousas, bastam para
causar o tormento e o horror do purgatório, pois que se avizinham da
angústia do desespero.
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16ª Tese
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Inferno,
purgatório e céu parecem ser tão diferentes quanto o são um do outro o
desespero completo, incompleto ou quase desespero e certeza.
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17ª Tese
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Parece que assim como no purgatório diminuem a angústia e o espanto das almas, nelas também deve crescer e aumentar o amor.
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18ª Tese
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Bem
assim parece não ter sido provado, nem por boas ações e nem pela
Escritura, que as almas no purgatório se encontram fora da possibilidade
do mérito ou do crescimento no amor.
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19ª Tese
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Ainda
parece não ter sido provado que todas as almas do purgatório tenham
certeza de sua salvação e não receiem por ela, não obstante nós termos
absoluta certeza disto.
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20ª Tese
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Por
isso o papa não quer dizer e nem compreende com as palavras “perdão
plenário de todas as penas” que todo o tormento é perdoado, mas as penas
por ele impostas.
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21ª Tese
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Eis
porque erram os apregoadores de indulgências ao afirmarem ser o homem
perdoado de todas as penas e salvo mediante a indulgência do papa.
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22ª Tese
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Pensa
com efeito, o papa nenhuma pena dispensa às almas no purgatório das que
segundo os cânones da Igreja deviam ter expiado e pago na presente
vida.
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23ª Tese
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Verdade é que se houver qualquer perdão plenário das penas, este apenas será dado aos mais perfeitos, que são muito poucos.
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24ª Tese
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Assim
sendo, a maioria do povo é ludibriada com as pomposas promessas do
indistinto perdão, impressionando-se o homem singelo com as penas pagas.
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25ª Tese
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Exatamente
o mesmo poder geral, que o papa tem sobre o purgatório, qualquer bispo e
cura d'almas o tem no seu bispado e na sua paróquia, quer de modo
especial e quer para com os seus em particular.
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26ª Tese
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O
papa faz muito bem em não conceder às almas o perdão em virtude do
poder das chaves (ao qual não possui), mas pela ajuda ou em forma de
intercessão.
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27ª Tese
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Pregam futilidades humanas quantos alegam que no momento em que a moeda soa ao cair na caixa a alma se vai do purgatório.
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28ª Tese
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Certo
é que no momento em que a moeda soa na caixa vêm o lucro e o amor ao
dinheiro cresce e aumenta; a ajuda, porém, ou a intercessão da Igreja
tão só correspondem à vontade e ao agrado de Deus.
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29ª Tese
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E
quem sabe, se todas as almas do purgatório querem ser libertadas,
quando há quem diga o que sucedeu com Santo Severino e Pascoal.
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30ª Tese
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Ninguém
tem certeza da suficiência do seu arrependimento e pesar verdadeiros;
muito menos certeza pode ter de haver alcançado pleno perdão dos seus
pecados.
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31ª Tese
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Tão
raro como existe alguém que possui arrependimento e, pesar verdadeiros,
tão raro também é aquele que verdadeiramente alcança indulgência, sendo
bem poucos os que se encontram.
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32ª Tese
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Irão
para o diabo juntamente com os seus mestres aqueles que julgam obter
certeza de sua salvação mediante breves de indulgência.
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33ª Tese
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Há
que acautelasse muito e ter cuidado daqueles que dizem: A indulgência
do papa é a mais sublime e mais preciosa graça ou dadiva de Deus, pela
qual o homem é reconciliado com Deus.
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34ª Tese
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Tanto assim que a graça da indulgência apenas se refere à pena satisfatória estipulada por homens.
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35ª Tese
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Ensinam
de maneira ímpia quantos alegam que aqueles que querem livrar almas do
purgatório ou adquirir breves de confissão não necessitam de
arrependimento e pesar.
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36ª Tese
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Todo
e qualquer cristão que se arrepende verdadeiramente dos seus pecados,
sente pesar por ter pecado, tem pleno perdão da pena e da dívida, perdão
esse que lhe pertence mesmo sem breve de indulgência.
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37ª Tese
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Todo
e qualquer cristão verdadeiro, vivo ou morto, é participante de todos
os bens de Cristo e da Igreja, dádiva de Deus, mesmo sem breve de
indulgência.
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38ª Tese
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Entretanto
se não deve desprezar o perdão e a distribuição por parte do papa.
Pois, conforme declarei, o seu perdão constitui uma declaração do perdão
divino.
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39ª Tese
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É
extremamente difícil, mesmo para os mais doutos teólogos, exaltar
diante do povo ao mesmo tempo a grande riqueza da indulgência e ao
contrário o verdadeiro arrependimento e pesar.
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40ª Tese
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O
verdadeiro arrependimento e pesar buscam e amam o castigo: mas a
profusão da indulgência livra das penas e faz com que se as aborreça,
pelo menos quando há oportunidade para isso.
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41ª Tese
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É
necessário pregar cautelosamente sobre a indulgência papal para que o
homem singelo não julgue erroneamente ser a indulgência preferível às
demais obras de caridade ou melhor do que elas.
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42ª Tese
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Deve-se
ensinar aos cristãos, não ser pensamento e opinião do papa que a
aquisição de indulgência de alguma maneira possa ser comparada com
qualquer obra de caridade.
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43ª Tese
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Deve-se
ensinar aos cristãos proceder melhor quem dá aos pobres ou empresta aos
necessitados do que os que compram indulgências.
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44ª Tese
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Ê
que pela obra de caridade cresce o amor ao próximo e o homem torna-se
mais piedoso; pelas indulgências, porém, não se torna melhor senão mais
seguro e livre da pena.
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45ª Tese
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Deve-se
ensinar aos cristãos que aquele que vê seu próximo padecer necessidade e
a despeito disto gasta dinheiro com indulgências, não adquire
indulgências do papa. mas provoca a ira de Deus.
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46ª Tese
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Deve-se
ensinar aos cristãos que, se não tiverem fartura , fiquem com o
necessário para a casa e de maneira nenhuma o esbanjem com indulgências.
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47ª Tese
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Deve-se ensinar aos cristãos, ser a compra de indulgências livre e não ordenada
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48ª Tese
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Deve-se
ensinar aos cristãos que, se o papa precisa conceder mais indulgências,
mais necessita de uma oração fervorosa do que de dinheiro.
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49ª Tese
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Deve-se
ensinar aos cristãos, serem muito boas as indulgências do papa enquanto
o homem não confiar nelas; mas muito prejudiciais quando, em
conseqüência delas, se perde o temor de Deus.
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50ª Tese
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Deve-se ensinar aos cristãos que, se o papa
tivesse conhecimento da traficância dos apregoadores de indulgências,
preferiria ver a catedral de São Pedro ser reduzida a cinzas a ser
edificada com a pele, a carne e os ossos de suas ovelhas.
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51ª Tese
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Deve-se
ensinar aos cristãos que o papa, por dever seu, preferiria distribuir o
seu dinheiro aos que em geral são despojados do dinheiro pelos
apregoadores de indulgências, vendendo, se necessário fosse, a própria
catedral de São Pedro.
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52º Tese
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Comete-se
injustiça contra a Palavra de Deus quando, no mesmo sermão, se consagra
tanto ou mais tempo à indulgência do que à pregação da Palavra do
Senhor.
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53ª Tese
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São inimigos de Cristo e do papa quantos por causa da prédica de indulgências proíbem a Palavra de Deus nas demais igrejas.
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54ª Tese
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Esperar
ser salvo mediante breves de indulgência é vaidade e mentira, mesmo se o
comissário de indulgências, mesmo se o próprio papa oferecesse sua alma
como garantia.
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55ª Tese
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A
intenção do papa não pode ser outra do que celebrar a indulgência, que é
a causa menor, com um sino, uma pompa e uma cerimônia, enquanto o
Evangelho, que é o essencial, importa ser anunciado mediante cem sinos,
centenas de pompas e solenidades.
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56ª Tese
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Os
tesouros da Igreja, dos quais o papa tira e distribui as indulgências,
não são bastante mencionados e nem suficientemente conhecido na Igreja
de Cristo.
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57ª Tese
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Que não são bens temporais, é evidente, porquanto muitos pregadores a estes não distribuem com facilidade, antes os ajuntam.
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58ª Tese
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Tão
pouco são os merecimentos de Cristo e dos santos, porquanto estes
sempre são eficientes e, independentemente do papa, operam salvação do
homem interior e a cruz, a morte e o inferno para o homem exterior.
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59ª Tese
|
São Lourenço aos pobres chamava tesouros da Igreja, mas no sentido em que a palavra era usada na sua época.
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60ª Tese
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Afirmamos
com boa razão, sem temeridade ou leviandade, que estes tesouros são as
chaves da Igreja, a ela dado pelo merecimento de Cristo.
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61ª Tese
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Evidente é que para o perdão de penas e para a absolvição em determinados casos o poder do papa por si só basta.
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62ª Tese
|
O verdadeiro tesouro da Igreja é o santíssimo Evangelho da glória e da graça de Deus.
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63ª Tese
|
Este tesouro, porém, é muito desprezado e odiado, porquanto faz com que os primeiros sejam os últimos.
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64ª Tese
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Enquanto isso o tesouro das indulgências é sabiamente o mais apreciado, porquanto faz com que os últimos sejam os primeiros.
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65ª Tese
|
Por essa razão os tesouros evangélicos outrora foram as redes com que se apanhavam os ricos e abastados.
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66ª Tese
|
Os tesouros das indulgências, porém, são as redes com que hoje se apanham as riquezas dos homens.
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67ª Tese
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As
indulgências apregoadas pelos seus vendedores como a mais sublime graça
decerto assim são consideradas porque lhes trazem grandes proventos.
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68ª Tese
|
Nem por isso semelhante indigência não deixa de ser a mais Intima graça comparada com a graça de Deus e a piedade da cruz.
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69ª Tese
|
Os bispos e os sacerdotes são obrigados a receber os comissários das indulgências apostólicas com toda a reverência.
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70ª Tese
|
Entretanto
têm muito maior dever de conservar abertos olhos e ouvidos, para que
estes comissários, em vez de cumprirem as ordens recebidas do papa, não
preguem os seus próprios sonhos.
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71ª Tese
|
Aquele, porém, que se insurgir contra as palavras insolentes e arrogantes dos apregoadores de indulgências, seja abençoado.
|
72ª Tese
|
Quem levanta a sua voz contra a verdade das indulgências papais é excomungado e maldito.
|
73ª Tese
|
Da
mesma maneira em que o papa usa de justiça ao fulminar com a excomunhão
aos que em prejuízo do comércio de indulgências procedem
astuciosamente.
|
74ª Tese
|
Muito
mais deseja atingir com o desfavor e a excomunhão àqueles que, sob o
pretexto de indulgência, prejudiquem a santa caridade e a verdade pela
sua maneira de agir.
|
75ª Tese
|
Considerar
as indulgências do papa tão poderosas, a ponto de poderem absolver
alguém dos pecados, mesmo que (cousa impossível) tivesse desonrado a mãe
de Deus, significa ser demente.
|
78 ª Tese
|
Bem
ao contrario, afirmamos que a indulgência do papa nem mesmo o menor
pecado venial pode anular o que diz respeito à culpa que constitui.
|
77ª Tese
|
Dizer que mesmo São Pedro, se agora fosse papa, não poderia dispensar maior indulgência, significa blasfemar S. Pedro e o papa.
|
78ª Tese
|
Em
contrario dizemos que o atual papa, e todos os que o sucederam, é
detentor de muito maior indulgência, isto é, o Evangelho, as virtudes o
dom de curar, etc., de acordo com o que diz 1Coríntios 12.
|
79ª Tese
|
Afirmar
ter a cruz de indulgências adornada com as armas do papa e colocada na
igreja tanto valor como a própria cruz de Cristo, é blasfêmia.
|
80ª Tese
|
Os bispos, padres e teólogos que consentem em semelhante linguagem diante do povo, terão de prestar contas deste procedimento.
|
81ª Tese
|
Semelhante
pregação, a enaltecer atrevida e insolentemente a Indulgência, faz com
que mesmo a homens doutos é difícil proteger a devida reverência ao papa
contra a maledicência e as fortes objeções dos leigos.
|
82 ª Tese
|
Eis
um exemplo: Por que o papa não tira duma só vez todas as almas do
purgatório, movido por santíssima' caridade e em face da mais premente
necessidade das almas, que seria justíssimo motivo para tanto, quando em
troca de vil dinheiro para a construção da catedral de S. Pedro, livra
um sem número de almas, logo por motivo bastante Insignificante?
|
83ª Tese
|
Outrossim:
Por que continuam as exéquias e missas de ano em sufrágio das almas dos
defuntos e não se devolve o dinheiro recebido para o mesmo fim ou não
se permite os doadores busquem de novo os benefícios ou pretendas
oferecidos em favor dos mortos, visto' ser Injusto continuar a rezar
pelos já resgatados?
|
84ª Tese
|
Ainda:
Que nova piedade de Deus e dó papa é esta, que permite a um ímpio e
inimigo resgatar uma alma piedosa e agradável a Deus por amor ao
dinheiro e não resgatar esta mesma alma piedosa e querida de sua grande
necessidade por livre amor e sem paga?
|
85ª Tese
|
Ainda:
Por que os cânones de penitencia, que, de fato, faz muito caducaram e
morreram pelo desuso, tornam a ser resgatados mediante dinheiro em forma
de indulgência como se continuassem bem vivos e em vigor?
|
86ª Tese
|
Ainda:
Por que o papa, cuja fortuna hoje é mais principesca do que a de
qualquer Credo, não prefere edificar a catedral de S. Pedro de seu
próprio bolso em vez de o fazer com o dinheiro de fiéis pobres?
|
87ª Tese
|
Ainda:
Quê ou que parte concede o papa do dinheiro proveniente de indulgências
aos que pela penitência completa assiste o direito à indulgência
plenária?
|
88ª Tese
|
Afinal:
Que maior bem poderia receber a Igreja, se o papa, como Já O faz, cem
vezes ao dia, concedesse a cada fiel semelhante dispensa e participação
da indulgência a título gratuito.
|
89ª Tese
|
Visto
o papa visar mais a salvação das almas do que o dinheiro, por que
revoga os breves de indulgência outrora por ele concedidos, aos quais
atribuía as mesmas virtudes?
|
90ª Tese
|
Refutar
estes argumentos sagazes dos leigos pelo uso da força e não mediante
argumentos da lógica, significa entregar a Igreja e o papa a zombaria
dos inimigos e desgraçar os cristãos.
|
91ª Tese
|
Se
a Indulgência fosse apregoada segundo o espírito e sentido do papa,
aqueles receios seriam facilmente desfeitos, nem mesmo teriam surgido.
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92ª Tese
|
Fora, pois, com todos estes profetas que dizem ao povo de Cristo: Paz! Paz! e não há Paz.
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93ª Tese
|
Abençoados sejam, porém, todos os profetas que dizem à grei de Cristo: Cruz! Cruz! e não há cruz.
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94ª Tese
|
Admoestem-se os cristãos a que se empenhem em seguir sua Cabeça Cristo através do padecimento, morte e inferno.
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95ª Tese
|
E
assim esperem mais entrar no Reino dos céus através de muitas
tribulações do que facilitados diante de consolações infundadas.
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Um breve historico do que foi a Reforma Protestante.
1. Antecedentes – final da Idade Média
1.1 Os Estados Nacionais
Nos séculos que antecederam a Reforma Protestante, a Igreja não vivia em um vácuo, mas sim em um contexto político e social mais amplo com o qual tinha múltiplas interações. No final da Idade Média, houve o surgimento dos chamados “estados nacionais”, as modernas nações europeias, o que representou uma grande ameaça às pretensões do papado. Na Alemanha (Sacro Império Romano), Rudolf von Hapsburg foi eleito imperador em 1273. Em 1356, um documento conhecido como Bula de Ouro determinou que cada novo imperador seria escolhido por sete eleitores (quatro nobres e três arcebispos). Havia descentralização política, isto é, o poder dos príncipes limitava a autoridade do imperador, e forte tensão entre a igreja e o estado.
Na França, houve o fortalecimento da monarquia com Filipe IV, o Belo (1285-1314). Esse rei enfrentou com êxito o poder da Igreja e dos papas e preparou a França para tornar-se o primeiro estado nacional moderno. Na Inglaterra, o parlamento reuniu-se pela primeira vez em 1295. Esse país teve um grande rei na pessoa de Eduardo I (†1307), que subjugou os nobres e enfrentou com êxito o papa na questão de impostos.
1.2 O Declínio do Papado
Este período começa com o pontificado de Bonifácio VIII (1294-1303), um papa arrogante e ambicioso que entrou em confronto direto com o rei Filipe IV acerca de impostos e da autoridade papal. Bonifácio publicou três famosas bulas: Clericis Laicos, na qual reclama que os leigos sempre foram hostis ao clero; Ausculta Fili (“Escuta, filho”), dirigida ao rei francês, e Unam Sanctam (1302), denominada “o canto do cisne do papado medieval”. Irritado com as ações papais, Filipe enviou suas tropas, o papa foi preso e faleceu um mês após ser libertado.
Seguiu-se um período de crescente desmoralização do papado. Clemente V (1305-1314), um papa francês, transferiu a Cúria, ou seja, a administração da Igreja, para Avinhão, ao sul da França, no que ficou conhecido como o “Cativeiro Babilônico da Igreja” (1309-1377). Em toda parte, cresceram as críticas às extravagâncias e ao luxo da corte papal. João XXII (1316-1334) mostrou-se eficiente na cobrança de taxas e dízimos para cobrir essas despesas. Finalmente, ocorreu o chamado “Grande Cisma”, em que houve dois e posteriormente três papas rivais em Roma, Avinhão e Pisa (1378-1417). Diante dessa situação constrangedora, surgiu em toda a Europa um clamor por “reformas na cabeça e nos membros”.
1.3 O Movimento Conciliar
Durante o “Grande Cisma”, cada papa considerou-se o único legítimo e excomungou o rival. Assim, houve a necessidade de um concílio para resolver a crise. O Concílio de Pisa (1409) elegeu um novo papa, mas os outros dois recusaram-se a serem depostos, resultando em três papas ao mesmo tempo. João XXIII, o segundo papa pisano, convocou o Concílio de Constança (1414-1417), que depôs os três papas, elegeu Martinho V como único papa, decretou a supremacia dos concílios sobre o papa e condenou os pré-reformadores João Wycliff, João Hus e Jerônimo de Praga. O Concílio de Basiléia (1431-1449) reafirmou a superioridade dos concílios. Finalmente, o Concílio de Ferrara-Florença (1438-1445) tentou a união com a Igreja Ortodoxa (frustrada pela conquista de Constantinopla pelos turcos em 1453) e reafirmou a supremacia papal. Essa tentativa fracassada de tornar a Igreja mais democrática e governá-la através de concílios ficou conhecida como conciliarismo.
1.4 Movimentos dissidentes
Outro aspecto desse período de efervescência foi o surgimento de alguns movimentos dissidentes no sul da França que despertaram forte oposição da Igreja Católica. Um deles foi o dos cátaros (em grego = “puros”) ou albigenses (da cidade de Albi), surgidos no século 11. Caracterizavam-se por um sincretismo cristão, gnóstico e maniqueísta, com um dualismo radical (espiritual x material) e extremo ascetismo. Foram condenados pelo 4° Concílio Lateranense em 1215 e mais tarde aniquilados por uma cruzada. Para combater esses e outros hereges, a Inquisição foi oficializada em 1233.
Outro movimento foi liderado por Pedro Valdo ou Valdes († c.1205), de Lião, cujos seguidores ficaram conhecidos como “homens pobres de Lião”. Tinham um estilo de vida comunitário, ensinavam as Escrituras no vernáculo (enfatizando o Sermão do Monte), incentivavam a pregação de leigos e de mulheres, negavam o purgatório. Condenados pelo Concílio de Verona em 1184, foram muito perseguidos, refugiando-se em vales remotos e quase inacessíveis dos alpes italianos. Mais tarde, abraçaram a Reforma Protestante, sendo assim uma das poucas Igrejas protestantes anteriores à Reforma do Século 16.
1.5 Primeiros Movimentos de Reforma
João Wycliff |
Nos séculos 14 e 15,
surgiram alguns movimentos esporádicos de protesto contra certos ensinos
e práticas da Igreja Medieval. Um deles foi encabeçado por João Wycliff
(1325?-1384), um sacerdote e professor da Universidade de Oxford, na
Inglaterra. Wycliff atacou as irregularidades do clero, as superstições
(relíquias, peregrinações, veneração dos santos), bem como a
transubstanciação, o purgatório, as indulgências, o celibato clerical e
as pretensões papais. Seus seguidores, conhecidos como os lolardos,
tinham a Bíblia como norma de fé que todos devem ler e interpretar.
João Hus |
João Hus (c.1372-1415), um sacerdote e
professor da Universidade de Praga, na Boêmia, foi influenciado pelos
escritos de Wycliff. Definia a igreja por uma vida semelhante à de
Cristo, e não pelos sacramentos. Dizia que todos os eleitos são membros
da igreja e que o seu cabeça é Cristo, não o papa. Insistia na
autoridade suprema das Escrituras. Hus foi condenado à fogueira pelo
Concílio de Constança. Seus seguidores ficaram conhecidos como Irmãos
Boêmios (1457) e foram muito perseguidos. Foram os precursores dos
Irmãos Morávios, que veremos posteriormente, outro grupo protestante
cujas raízes são anteriores à Reforma do século 16. Outro indivíduo
incluído entre os pré-reformadores é Jerônimo Savonarola (1452-1498), um
frade dominicano de Florença, na Itália, que pregou contra a
imoralidade na sociedade e na Igreja, inclusive no papado. Governou a
cidade por algum tempo, mas finalmente foi excomungado e enforcado como
herege.
1.6 Movimentos Devocionais
Além dos movimentos que romperam com a Igreja, houve outros que permaneceram na mesma por se concentrarem na vida devocional, sem críticas aos dogmas católicos. Um deles foi o misticismo, bastante forte na Inglaterra, Holanda e especialmente na Alemanha (Reno). Os principais místicos dessa época foram Meister Eckhart (†1327); Tauler (†1361) e os “Amigos de Deus”, Henrique Suso (†1366) e mais tarde o célebre teólogo e líder eclesiástico Nicolau de Cusa (1401-1464). O misticismo dava ênfase à união com Deus, ao amor, à humildade e à caridade, e produziu uma belíssima literatura devocional.
Outro importante movimento foi a Devoção Moderna, que se manteve forte durante todo o século 15. Suas ênfases recaíam sobre a espiritualidade, a leitura da Bíblia, a meditação e a oração. Também valorizava a educação, criando ótimas escolas. Foi um movimento leigo, para ambos os sexos, e também exerceu grande influência sobre os reformadores protestantes. Os participantes eram conhecidos como Irmãos da Vida Comum. A obra mais importante e popular produzida por esse movimento foi o belíssimo livreto devocional A Imitação de Cristo (1418), escrito por Thomas à Kempis.
1.7 Os humanistas bíblicos
O interesse pelas obras da Antiguidade levou ao estudo da Bíblia nas línguas originais pelos chamados humanistas bíblicos. Os principais deles foram o italiano Lorenzo Valla (†1457), estudioso do Novo Testamento; o inglês John Colet (†1519), estudioso das epístolas paulinas; o alemão Johannes Reuchlin (†1522), notável hebraísta; o francês Lefèvre D’Étaples (†1536), tradutor do Novo Testamento; e o holandês Erasmo de Roterdã (1466?-1536), “o príncipe dos humanistas”, que publicou uma edição crítica do Novo Testamento grego com uma tradução latina, talvez a obra mais importante publicada no século 16, que serviu de base para as traduções de Lutero, Tyndale e Lefèvre e muito influenciou os reformadores protestantes. Esse retorno às Escrituras muito contribuiu para a Reforma do Século 16.
1.8 Situação Geral
Joana D'Arc |
O final da Idade Média
foi marcado por muitas convulsões políticas, sociais e religiosas. Entre
as políticas destacou-se a Guerra dos Cem Anos (1337-1453), entre a
Inglaterra e a França, na qual tornou-se famosa a heroína Joana D’Arc.
Houve também muitas revoltas camponesas, o declínio do feudalismo, a
expansão das cidades e o surgimento do capitalismo. No aspecto social,
havia fomes periódicas e o terrível flagelo da peste bubônica ou peste
negra (1348). As guerras, epidemias e outros males produziam morte,
devastação e desordem, ou seja, a ruptura da vida social e pessoal. O
sentimento dominante era de insegurança, ansiedade, melancolia e
pessimismo. Isso era ilustrado pela “dança da morte”, gravuras que se
viam em toda parte com um esqueleto dançante.
Na área religiosa, houve a erosão do ideal da cristandade ou “corpus christianum”, a sociedade coesa sob a liderança da igreja e dos papas. A religiosidade era meritória, com missas pelos mortos, crença no purgatório e invocação dos santos e Maria. Ao mesmo tempo, havia grande ressentimento contra a igreja por causa dos abusos praticados e do desvio dos seus propósitos. Isso é ilustrado pela situação do papado no final do século 15 e início do século 16. Os chamados papas do renascimento foram mais estadistas e patronos das artes e da cultura do que pastores do seu rebanho. A instituição papal continuou em declínio, com muitas lutas políticas, simonia, nepotismo, falta de liderança espiritual, aumento de gastos e novos impostos eclesiásticos. Como papa Alexandre VI (1492-1503), o espanhol Rodrigo Borja foi um generoso promotor das artes e da carreira dos seus filhos César e Lucrécia; Júlio II (1503-1513) foi um papa guerreiro, comandando pessoalmente o seu exército; Leão X (1513-1521), o papa contemporâneo de Lutero, teria dito quando foi eleito: “Agora que Deus nos deu o papado, vamos desfrutá-lo”.
2. A Reforma Protestante – 1ª Parte
2.1 O contexto social e religioso
Vimos, no final da seção anterior, alguns elementos que caracterizavam a sociedade européia às vésperas da Reforma. Havia muita violência, baixa expectativa de vida, profundos contrastes socioeconômicos e um crescente sentimento nacionalista. Havia também muita insatisfação, tanto dos governantes como do povo, em relação à Igreja, principalmente ao alto clero e a Roma. Na área espiritual, havia insegurança e ansiedade acerca da salvação em virtude de uma religiosidade baseada em obras, também chamada de religiosidade contábil ou “matemática da salvação” (débitos = pecados; créditos = boas obras).
Foi bastante inusitado o episódio mais imediato que desencadeou o protesto de Lutero. Desde meados do século 14, cada novo líder do Sacro Império Romano era escolhido por um colégio eleitoral composto de quatro príncipes e três arcebispos. Em 1517, quando houve a eleição de um novo imperador, um dos três arcebispados eleitorais (o de Mainz ou Mogúncia) estava vago. Uma das famílias nobres que participavam desse processo, os Hohenzollern, resolveu tomar para si esse cargo e assim ter mais um voto no colégio eleitoral. Um jovem da família, Alberto, foi escolhido para ser o novo arcebispo, mas havia dois problemas: ele era leigo e não tinha a idade mínima exigida pela lei canônica para exercer esse ofício. O primeiro problema foi sanado com a sua rápida ordenação ao sacerdócio.
Quanto ao impedimento da idade, era necessária uma autorização especial do papa, o que levou a um negócio altamente vantajoso para ambas as partes. A família nobre comprou a autorização do papa Leão X mediante um empréstimo feito junto aos banqueiros Fugger, de Augsburgo. Ao mesmo tempo, o papa autorizou o novo arcebispo Alberto de Brandemburgo a fazer uma venda especial de indulgências, dividindo os rendimentos da seguinte maneira: parte serviria para o pagamento do empréstimo feito pela família e a outra parte iria para as obras da Catedral de São Pedro, em Roma. E assim foi feito. Tão logo foi instalado no seu cargo, Alberto encarregou o dominicano João Tetzel de fazer a venda das indulgências (o perdão das penas temporais do pecado). Quando Tetzel aproximou-se de Wittenberg, Lutero resolveu pronunciar-se sobre o assunto.
2.2 Martinho Lutero (1483-1546)
Martinho Lutero |
Martinho Lutero nasceu
em 1483 na pequena cidade de Eisleben, na Turíngia, em um lar muito
religioso. Seu pai trabalhava nas minas e a família tinha uma vida
confortável. Inicialmente, o jovem pretendeu seguir a carreira jurídica,
mas em 1505 defrontou-se com a morte em uma tempestade e resolveu
abraçar a vida religiosa. Ingressou no mosteiro agostiniano de Erfurt,
onde se dedicou a uma intensa busca da salvação. Em 1512, tornou-se
professor da Universidade de Wittenberg, onde passou a ministrar cursos
sobre vários livros da Bíblia, como Gálatas e Romanos. Isso lhe deu um
novo entendimento acerca da “justiça de Deus”: ela não era simplesmente
uma expressão da severidade de Deus, mas do seu amor que justifica o
pecador mediante a fé em Jesus Cristo (Rom 1.17).
No dia 31 de outubro de 1517, diante da venda das indulgências por João Tetzel, Lutero afixou à porta da igreja de Wittenberg as suas Noventa e Cinco Teses, a maneira usual de convidar-se uma comunidade acadêmica para debater algum assunto. Logo, uma cópia das teses chegou às mãos do arcebispo, que as enviou a Roma. No ano seguinte, Lutero foi convocado para ir a Roma a fim de responder à acusação de heresia. Recusando-se a ir, foi entrevistado pelo cardeal Cajetano e manteve as suas posições. Em 1519, Lutero participou de um debate em Leipzig com o dominicano João Eck, no qual defendeu o pré-reformador João Hus e afirmou que os concílios e os papas podiam errar.
Em 1520, a bula papal Exsurge Domine (= “Levanta-te, Senhor”) deu-lhe sessenta dias para retratar-se ou ser excomungado. Os estudantes e professores da universidade queimaram a bula e um exemplar da lei canônica em praça pública. Nesse mesmo ano, Lutero escreveu várias obras importantes, especialmente três: À Nobreza Cristã da Nação Alemã, O Cativeiro Babilônico da Igreja e A Liberdade do Cristão. Isso lhe deu notoriedade imediata em toda a Europa e aumentou a sua popularidade na Alemanha. No início de 1521, foi publicada a bula de excomunhão, Decet Pontificem Romanum. Nesse ano, Lutero compareceu a uma reunião do parlamento, a Dieta de Worms, onde reafirmou as suas idéias. Foi promulgado contra ele o Edito de Worms, que o levou a refugiar-se no castelo de Wartburgo, sob a proteção do príncipe-eleitor da Saxônia, Frederico, o Sábio. Ali, Lutero começou a produzir uma obra-prima da literatura alemã, a sua tradução das Escrituras.
2.3 A Reforma na Alemanha
A partir de então, a reforma luterana difundiu-se rapidamente no Sacro Império, sendo abraçada por vários principados alemães. Isso levou a dificuldades crescentes com os principados católicos, com o novo imperador Carlos V (1519-1556) e com o parlamento (Dieta). Na Dieta de 1526, houve uma atitude de tolerância para com os luteranos, mas em 1529 a Dieta de Spira reverteu essa política conciliadora. Diante disso, os líderes luteranos fizeram um protesto formal que deu origem ao nome histórico “protestantes”. No ano seguinte, o auxiliar e eventual sucessor de Lutero, Filipe Melanchton (1497-1560), apresentou ao imperador Carlos V a Confissão de Augsburgo, um importante documento que definia em 21 artigos a doutrina luterana e indicava sete erros que Lutero via na Igreja Católica Romana.
Os problemas político-religiosos levaram a um período de guerras entre católicos e protestantes (1546-1555), que terminaram com um tratado, a Paz de Augsburgo. Esse tratado assegurou a legalidade do luteranismo mediante o princípio “cujus regio, eius religio”, ou seja, a religião de um príncipe seria automaticamente a religião oficial do seu território. O luteranismo também se difundiu em outras partes da Europa, principalmente nos países nórdicos, surgindo igrejas nacionais luteranas na Suécia (1527), Dinamarca (1537), Noruega (1539) e Islândia (1554). Lutero e os demais reformadores defenderam alguns princípios básicos que viriam a caracterizar as convicções e práticas protestantes: sola Scriptura, solo Christo, sola gratia, sola fides, soli Deo gloria. Outro princípio aceito por todos foi o do sacerdócio universal dos fiéis.
2.4 Ulrico Zuínglio (1484-1531)
Ulrico Zuínglio |
Ulrico Zuínglio recebeu
uma educação esmerada, com forte influência humanista. Inicialmente, foi
sacerdote em Glarus (1506) e em Einsiedeln (1516). Influenciado pelo
Novo Testamento publicado por Erasmo de Roterdã, tornou-se um estudioso
das Escrituras e um pregador bíblico. Com isso, foi chamado para
trabalhar na catedral de Zurique em 1518. Quatro anos mais tarde,
surgiram as primeiras divergências com a doutrina católica. Zuínglio
defendeu o consumo de carne na quaresma e o casamento dos sacerdotes,
alegando não serem essas coisas proibidas nas Escrituras. Ele propôs o
princípio de que tudo devia ser julgado pela Bíblia.
Em 1523, houve o primeiro debate público em Zurique e a cidade começou a tornar-se protestante. O reformador escreveu os Sessenta e Sete Artigos – a carta magna da reforma de Zurique – nos quais defendeu a salvação somente pela graça, a autoridade da Escritura e o sacerdócio dos fiéis, bem como atacou o primado do papa e a missa. Esse movimento suíço, conhecido como a “segunda reforma”, deu origem às igrejas “reformadas”, difundindo-se inicialmente na Suíça alemã e no sul da Alemanha. Em 1525, o Conselho Municipal de Zurique adotou o culto em lugar da missa e em geral promoveu mudanças mais radicais do que as efetuadas por Lutero.
Como estava acontecendo na Alemanha, também na Suíça houve guerras entre católicos e protestantes. Em 1529, travou-se a primeira batalha de Kappel. No mesmo ano, a Dieta de Spira mostrou aos protestantes a necessidade de uma aliança contra os seus adversários. Para tanto, era necessário que resolvessem algumas diferenças doutrinárias. Isso levou ao Colóquio de Marburg, convocado pelo príncipe Filipe de Hesse. Luteranos e reformados concordaram sobre a maior parte das questões doutrinárias, mas divergiram seriamente sobre o significado da Santa Ceia. Em 1531, Zuínglio morreu na segunda batalha de Kappel.
2.5 Os Reformadores Radicais (Anabatistas)
O terceiro movimento da Reforma Protestante surgiu na própria cidade de Zurique. Em 1522, homens como Conrado Grebel e Félix Mantz começaram a reunir-se com amigos para estudar a Bíblia. Inicialmente, eles apoiaram a obra de Zuínglio, mas a partir de 1524 passaram a condenar tanto Zuínglio quanto as autoridades municipais, alegando que a sua obra de reforma não estava sendo profunda o suficiente. Por causa de sua insistência no batismo de adultos, foram apelidados de “anabatistas”, ou seja, rebatizadores, sendo também chamados de radicais, fanáticos, entusiastas e outras designações. Por causa de suas atividades de protesto, nas quais chegavam a interromper cultos e celebrações da ceia, os líderes anabatistas sofreram punições de severidade crescente. Em 1526, Grebel morreu em uma epidemia, mas seu pai foi decapitado, Mantz foi afogado e outro líder, Jorge Blaurock, foi expulso da cidade.
O movimento logo se difundiu nas vizinhas Alemanha e Áustria e em outras partes da Europa. Um importante líder em Estrasburgo foi Miguel Sattler (c.1490-1527), que presidiu a conferência de Schleitheim (1527), na qual os anabatistas aprovaram a Confissão de Fé de Schleitheim. Essa confissão definiu os princípios anabatistas básicos: ideal de restauração da igreja primitiva; igrejas vistas como congregações voluntárias separadas do Estado; batismo de adultos por imersão; afastamento do mundo; fraternidade e igualdade; pacifismo; proibição do porte de armas, cargos públicos e juramentos. Os anabatistas foram os únicos protestantes do século 16 a defenderem a completa separação entre a igreja e o estado.
Os anabatistas adquiriram uma reputação negativa por causa de acontecimentos ocorridos na cidade de Münster (1532-1535). Influenciados por Melchior Hoffman, que anunciou o fim do mundo e a destruição dos ímpios, alguns anabatistas implantaram uma teocracia intolerante naquela cidade alemã. Finalmente, foram todos mortos por um exército católico. Já na Holanda, o movimento teve um líder equilibrado e capaz na pessoa de Menno Simons (1496-1561), do qual vieram os menonitas. Outro líder de expressão foi Jacob Hutter (†1536), na Morávia. Os menonitas e os huteritas viviam em colônias, tendo tudo em comum (ver Atos 2.44; 4.32). Cruelmente perseguidos em toda a Europa, muitos deles eventualmente emigraram para a América do Norte.
2.6 João Calvino (1509-1564)
João Calvino |
João Calvino nasceu em
Noyon, no nordeste da França. Seu pai, Gérard Cauvin, era secretário do
bispo e advogado da igreja naquela cidade; sua mãe Jeanne Lefranc,
morreu quando ele ainda era uma criança. Após os primeiros estudos em
sua cidade, Calvino seguiu para Paris, onde estudou teologia e
humanidades (1523-1528). A seguir, por determinação do pai, foi estudar
direito nas cidades de Orléans e Bourges (1528-1531). Com a morte do
pai, retornou a Paris e deu prosseguimento aos estudos humanísticos,
publicando sua primeira obra, um comentário do tratado de Sêneca Sobre a Clemência.
Calvino converteu-se provavelmente em 1533. No dia 1º de novembro daquele ano, seu amigo Nicholas Cop fez um discurso de posse na Universidade de Paris repleto de idéias protestantes. Calvino foi considerado o co-autor do discurso e os dois amigos tiveram de fugir para salvar a vida. Calvino foi para a cidade de Angouleme, onde começou a escrever a sua obra mais importante, Instituição da Religião Cristã ou Institutas, publicada em Basiléia em 1536 (a última edição seria publicada somente em 1559). Após voltar por breve tempo ao seu país, Calvino decidiu fixar-se na cidade protestante de Estrasburgo, onde atuava o reformador Martin Butzer (1491-1551). No caminho, ocorreu um episódio marcante. Impossibilitado de seguir diretamente para Estrasburgo por causa de guerra entre a França e a Alemanha, o futuro reformador fez um longo desvio, passando por Genebra, na Suíça francesa. Essa cidade havia abraçado o protestantismo reformado há apenas dois meses (maio de 1536), sob a liderança de Guilherme Farel (1489-1565). Este, sabendo que o autor das Institutas estava de passagem pela cidade, o “convenceu” a permanecer ali e ajudá-lo.
2.7 A Reforma em Genebra
Guilherme Farel |
Logo, Calvino e Farel
entraram em conflito com os magistrados de Genebra e dois anos depois
foram expulsos. Calvino seguiu então para Estrasburgo, onde passou os
três anos mais felizes e produtivos da sua carreira (1538-1541). Naquela
cidade, ele pastoreou uma igreja de refugiados franceses, casou-se com a
viúva Idelette de Bure (†1549), lecionou na academia de João Sturm,
participou de conferências religiosas ao lado de Martin Butzer e
publicou algumas obras importantes, entre elas a segunda edição das Institutas e o Comentário de Romanos, o primeiro dos muitos que escreveu.
Eventualmente, os magistrados de Genebra insistiram no seu retorno. Calvino aceitou com a condição de que pudesse escrever a constituição da Igreja Reformada de Genebra. Essa importante obra, as Ordenanças Eclesiásticas, previa quatro categorias de oficiais: pastores, encarregados da pregação e dos sacramentos; doutores para o estudo e ensino da Bíblia; presbíteros, com funções disciplinares; e diáconos, encarregados da beneficência. Os pastores e os doutores formavam a Companhia dos Pastores; os pastores e os presbíteros integravam o Consistório, uma espécie de tribunal eclesiástico. Calvino teve um relacionamento tenso com as autoridades municipais até 1555. No final desse período, em 1553, o médico espanhol Miguel Serveto foi condenado e executado por heresia. Calvino teve uma participação nesse episódio, lamentada por seus herdeiros, o que não anula a sua grande obra como reformador, escritor, teólogo e líder eclesiástico. Em 1559, um ano especialmente significativo, o reformador tornou-se cidadão de Genebra, fundou a sua Academia, embrião da Universidade de Genebra, e publicou a última edição das Institutas.
A visão do reformador francês era tornar Genebra uma cidade-cristã-modelo através da reorganização da Igreja, de um ministério bem preparado, de leis que expressassem uma ética bíblica e de um sistema educacional completo e gratuito. O resultado foi que Genebra tornou-se um grande centro do protestantismo, preparando líderes reformados para toda a Europa e abrigando centenas de refugiados. O calvinismo veio a ser o mais completo sistema teológico protestante, tendo por princípio básico a soberania de Deus e suas implicações, soteriológicas e outras. Foi essa a origem das Igrejas reformadas (continente europeu) ou presbiterianas (Ilhas Britânicas). Os principais países em que se difundiu o movimento reformado foram, além da Suíça e da França, o sul da Alemanha, a Holanda, a Hungria e a Escócia.
Calvino também se notabilizou como um erudito bíblico. Escreveu comentários sobre quase todo o Novo Testamento e os principais livros do Antigo Testamento. Seus sermões e preleções também expuseram amplamente as Escrituras. Além disso, escreveu muitos opúsculos, tratados e cartas. Mas a maior das suas obras são as Institutas, nas quais ele expôs todos os aspectos da doutrina cristã, apelando às Escrituras e ao testemunho dos antigos pais da igreja. Em muitas de suas obras, se vê uma mão que sustenta um coração, e ao redor as palavras Cor meum tibi offero Domine, prompte et sincere (“O meu coração te ofereço, ó Senhor, de modo pronto e sincero”).
2.8 Implicações Práticas
Os reformadores não estavam buscando inovar, mas restaurar antigas verdades bíblicas que haviam sido esquecidas ou obscurecidas pelo tempo e pelas tradições humanas. Sua maior contribuição foi chamar a atenção das pessoas para a importância das Escrituras e seus grandes ensinos, especialmente no que diz respeito à salvação e à vida cristã. Para que as Igrejas Evangélicas atuais possam manter-se fiéis à sua vocação, é preciso que julguem tudo pelas Escrituras, acolhendo o que é bom e lançando fora o que é mau. Os reformadores nos mostraram que o critério da verdade não são os ensinos humanos, nem a experiência espiritual subjetiva, mas o Espírito Santo falando na Palavra e pela Palavra.
3. A Reforma Protestante – 2ª Parte
3.1 A Reforma na Inglaterra
William Tyndale |
Vários fatores
contribuíram para a introdução da Reforma Protestante na Inglaterra: o
anticlericalismo de uma grande parcela do povo e dos governantes, as
idéias do pré-reformador João Wycliff, a penetração de ensinos luteranos
a partir de 1520, o Novo Testamento traduzido por William Tyndale
(1525) e a atuação de refugiados que voltaram de Genebra. Todavia, quem
deu o passo decisivo para que a Inglaterra começasse a tornar-se
protestante foi o Rei Henrique VIII (1491-1547) começou a
reinar em 1509. Sendo muito católico, em 1521 escreveu um folheto contra
Lutero que lhe valeu o título de “defensor da fé”. Era casado com a
princesa espanhola Catarina de Aragão, viúva do seu irmão, que não
conseguiu dar-lhe um filho varão, mas somente uma filha, Maria. Henrique
pediu ao papa Clemente VII que anulasse o seu casamento com Catarina
para que pudesse casar-se com Ana Bolena (Anne Boleyn), mas o papa não
pode atendê-lo nesse desejo. Uma das principais razões foi o fato de que
Catarina era tia do sacro imperador germânico Carlos V. Em 1533, Thomas
Cranmer (1489-1556) foi nomeado arcebispo de Cantuária e poucos meses
depois declarou nulo o casamento do rei. Em 1534, o parlamento aprovou o
Ato de Supremacia, pelo qual a Igreja Católica inglesa desvinculou-se
de Roma e o rei foi declarado “Protetor e Único Chefe Supremo da Igreja
da Inglaterra.” O bispo John Fisher e o ex-chanceler Thomas More
opuseram-se a essas medidas e foram executados (1535); os numerosos
mosteiros do país foram extintos e suas propriedades confiscadas
(1536-1539). Nos anos seguintes, Henrique ainda teria outras quatro
esposas: Jane Seymour, Ana de Cleves, Catarina Howard e Catarina Parr.
Henrique morreu na fé católica e foi sucedido no trono por Eduardo VI (1547-1553), o filho que teve com Jane Seymour. Os tutores do jovem rei implantaram a Reforma na Inglaterra e puseram fim às perseguições contra os protestantes. Foram aprovados dois importantes documentos escritos pelo arcebispo Cranmer, o Livro de Oração Comum (1549; revisto em 1552) e os Quarenta e Dois Artigos (1553), uma síntese das teologias luterana e calvinista. Eduardo era doentio e morreu ainda jovem, sendo sucedido por sua irmã Maria Tudor (1553-1558), conhecida como “a sanguinária”, filha de Catarina de Aragão. Maria perseguiu os líderes protestantes e muitos foram levados à fogueira. Os mártires mais famosos foram Hugh Latimer, Nicholas Ridley e Thomas Cranmer. Muitos outros, os chamados “exilados marianos”, foram para Genebra, Estrasburgo e outras cidades protestantes.
Com a morte de Maria, subiu ao trono sua meio-irmã Elizabete I (1558-1603), filha de Ana Bolena, em cujo reinado a Inglaterra tornou-se definitivamente protestante. Em 1563, foi promulgado o Ato de Uniformidade, que aprovou os Trinta e Nove Artigos. O resultado foi o acordo anglicano, que reuniu elementos das principais teologias evangélicas, bem como traços católicos, especialmente na área da liturgia. Além dos anglicanos, havia outros grupos protestantes na Inglaterra, como os puritanos, presbiterianos e congregacionais. Os puritanos surgiram no reinado de Elizabete e foram assim chamados porque reivindicavam uma Igreja pura em sua doutrina, culto e forma de governo. Reprimidos na Inglaterra, muitos puritanos foram para a América do Norte, estabelecendo-se em Plymouth (1620) e Boston (1630), na Nova Inglaterra. Outro grupo protestante inglês foram os batistas, surgidos a partir de 1607 sob a liderança de John Smyth e Thomas Helwys. Este fundou em 1612 a primeira igreja batista geral.
No século 17, no contexto da guerra civil entre o rei Carlos I e um parlamento puritano, foi convocada a Assembléia de Westminster (1643-1649). Essa célebre assembléia elaborou uma série de documentos calvinistas para a Igreja da Inglaterra, entre os quais a Confissão de Fé e os Catecismos Maior e Breve, que se tornaram os principais símbolos confessionais das Igrejas reformadas ou presbiterianas.
3.2 A Reforma na Escócia
John Knox |
O protestantismo começou
a ser difundido na Escócia por homens como Patrick Hamilton e George
Wishart, ambos martirizados. Todavia, o presbiterianismo foi introduzido
graças aos esforços do reformador John Knox (†1572), um discípulo de
Calvino que, após passar alguns anos em Genebra, retornou ao seu país em
1559. No ano seguinte, o parlamento escocês criou a Igreja da Escócia
(presbiteriana). Knox fez oposição tenaz à rainha católica Maria Stuart
(1542-1587), prima de Elizabete, que viveu na França (1548-1561) e
voltou à Escócia para tomar posse do trono. A aceitação do
protestantismo ocorreu no contexto da luta pela independência do domínio
francês. Alguns anos mais tarde, Maria Stuart teve de fugir e buscar
refúgio na Inglaterra, onde foi executada por ordem de Elizabete em
1587.
Foi na Escócia que surgiu o conceito político-religioso de “presbiterianismo”. Os reis ingleses e escoceses sempre foram firmes defensores do episcopalismo, ou seja, de uma Igreja governada por bispos. A razão disso é que, sendo os bispos nomeados pelos reis, a Igreja seria mais facilmente controlada pelo estado e serviria aos interesses do mesmo. À luz das Escrituras, os presbiterianos insistiram em uma Igreja governada por oficiais eleitos pela comunidade, os presbíteros, tornando assim a Igreja livre da tutela do Estado. Foi somente após um longo e tumultuado processo que o presbiterianismo implantou-se definitivamente na Escócia.
3.3 A Reforma na França
O movimento reformado francês surgiu na década de 1530. Inicialmente tolerante, o rei Francisco I (1515-1547) eventualmente mostrou-se hostil contra os reformados. Henrique II (1547-1559) foi ainda mais severo que o seu pai. Em 1559, reuniu-se o primeiro sínodo nacional da Igreja Reformada da França, que aprovou a Confissão Galicana. Em 1561, havia duas mil congregações reformadas no país, compostas de artesãos, comerciantes e até mesmo de algumas famílias nobres, como os Bourbon e os Montmorency. Os reformados franceses, conhecidos como huguenotes, estavam concentrados principalmente no oeste e sudoeste do país, e recebiam decidido apoio de Genebra. Ao norte e leste estava a facção ultracatólica liderada pela poderosa família Guise-Lorraine.
No reinado de Francisco II (1559-1560), os Guise controlaram o governo. Quando Carlos IX (1560-1574) tornou-se rei, sendo ainda menor, sua mãe Catarina de Médici assumiu a regência, mostrando-se inicialmente tolerante para com os huguenotes. Tentando conciliar as duas facções, ela promoveu um encontro de católicos e protestantes, o Colóquio de Poissy, em 1561. Com o fracasso desse encontro, houve um longo período de guerras religiosas (1562-1598), cujo episódio mais chocante foi o massacre do Dia de São Bartolomeu (24-08-1572). Centenas de huguenotes achavam-se em Paris para o casamento da filha de Catarina com o nobre protestante Henrique de Navarra. Na calada da noite, os huguenotes foram assassinados à traição enquanto dormiam, entre eles o seu principal líder, almirante Gaspard de Coligny. Nos dias seguintes, muitos milhares foram mortos no interior da França. Mais tarde, quando o nobre huguenote tornou-se rei, com o título de Henrique IV, ele promulgou em favor dos seus correligionários o Edito de Nantes (1598), concedendo-lhes uma tolerância limitada. Esse edito seria revogado pelo rei Luís XIV em 1685, dando início a um novo período de duras provações para os reformados franceses.
3.4 A Reforma nos Países Baixos
Os Países Baixos eram parte do Sacro Império Germânico e depois ficaram sob o domínio da Espanha. Durante o reinado do imperador Carlos V, surgiram naquela região luteranos, anabatistas e principalmente calvinistas, por volta de 1540. Desde o início foram objeto de intensas perseguições, tendo a repressão aumentado sob o rei Filipe II (1555) e o governador Duque de Alba (1567). A revolta contra a tirania espanhola foi liderada pelo alemão Guilherme de Orange, grande defensor da plena liberdade religiosa, que seria assassinado em 1584. Eventualmente, os Países Baixos dividiram-se em três nações: Bélgica e Luxemburgo (católicas) e Holanda (protestante).
Armínio |
A Igreja Reformada Holandesa foi
organizada na década de 1570. No início do século 17, surgiu uma forte
controvérsia por causa das idéias de Tiago Armínio. O Sínodo de Dort
(1618-1619) rejeitou as idéias de Armínio e afirmou os chamados “cinco
pontos do calvinismo”, cujas iniciais formam em inglês a palavra “tulip”
(tulipa): Depravação total ( Total depravity), Eleição incondicional
(Unconditional election), Expiação limitada (Limited atonement), Graça
irresistível (Irresistible Grace) e Perseverança dos santos
(Perseverance of the saints).
3.5 A Contra-Reforma
Ao analisarem as ações da Igreja Católica Romana após o surgimento do protestantismo, os historiadores falam em dois aspectos: Contra-Reforma e Reforma Católica. O primeiro foi o esforço da Igreja Romana para reorganizar-se e lutar contra o protestantismo. Essa reação ocorreu tanto no plano dogmático quanto político-militar. Já a Reforma Católica revelou a preocupação de corrigir certos problemas internos do catolicismo em resposta às críticas dos protestantes e de outros grupos.
Foram vários os elementos dessa reação. Na Espanha, houve notáveis manifestações de uma rica espiritualidade mística, cujos representantes mais destacados foram Teresa de Ávila e João da Cruz. Além do misticismo espanhol, outro sinal da revitalização católica foi o surgimento de várias ordens religiosas, das quais a mais importante foi a Sociedade de Jesus, fundada pelo espanhol Inácio de Loiola (1491-1556) e oficializada pelo papa em 1540. Além dos votos usuais de pobreza, castidade e obediência aos superiores, os jesuítas faziam um voto adicional de submissão incondicional ao papa. Seu objetivo era a expansão e o fortalecimento da fé católica através de missões, educação e combate à heresia. Os jesuítas exerceram forte influência sobre governantes e contribuíram decisivamente para a supressão do protestantismo em várias regiões da Europa, como a Espanha e a Polônia.
O instrumento mais eficaz tanto da Contra-Reforma quanto da Reforma Católica foi o Concílio de Trento, que se reuniu em três séries de sessões entre 1545 e 1563. Seus decretos rejeitaram explicitamente as doutrinas protestantes e oficializaram o tomismo (a teologia de Tomás de Aquino), a Vulgata Latina e os livros denominados apócrifos ou deuterocanônicos. Outros instrumentos da Contra-Reforma foram o Índice de Livros Proibidos (Index Librorum Prohibitorum, 1559) e a Inquisição, especialmente em suas versões espanhola e romana. Como expressão do dinamismo católico nesse período, as ordens dos franciscanos, dominicanos e jesuítas realizaram uma grande obra missionária no Oriente e nas Américas.
No território do Sacro Império, os conflitos entre católicos e protestantes continuaram por muitas décadas, atingindo o seu auge na tenebrosa Guerra dos Trinta Anos, que envolveu metade do continente europeu. Essa guerra terminou com a Paz de Westfália (1648), que fixou definitivamente as fronteiras político-religiosas da Europa e marcou o final do período da Reforma.
3.6 Implicações Práticas
A história da Reforma nem sempre é agradável e inspiradora. Por causa das profundas conexões entre elementos religiosos e políticos, esse período foi marcado por muita violência em nome da fé. Porque a religião é uma coisa muito importante para as pessoas, as paixões que desperta podem se tornar terrivelmente destrutivas. Os erros cometidos nessa área por diferentes grupos nos séculos 16 e 17 nos servem de advertência e de estímulo para a prática da caridade cristã e da tolerância, conforme o exemplo de Cristo. Podemos, sem abrir mão de nossas convicções, respeitar os que pensam diferente de nós.
Ao mesmo tempo, nos impressionamos com o heroísmo de tantos irmãos nossos da época da Reforma, que por causa de sua fé enfrentaram muitas provações e até mesmo mortes cruéis. O evangelho já não exige esse tipo de sacrifício da maioria dos cristãos do Ocidente, mas isso não significa que estamos livres de grandes desafios. São outras as maneiras pelas quais a nossa fé é testada no tempo presente. Viver de acordo com os princípios e os valores do Reino de Deus continua sendo uma prova difícil, mas necessária, para todos os cristãos.
Parede dos Reformadores em Genebra. Da esquerda para a direita: Guilherme Farel, João Calvino, Theodoro de Beza e João Knox |
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