O Brasil marrano:
Os estudos sobre o
marranismo tem despertado grande interesse. No Laboratório de Estudos
sobre Intolerância–LEI da Universidade de São Paulo, as pesquisas sobre
Inquisição, cristãos-novos (marranos) e criptojudaismo no período
colonial, dirigidas pela professora Novinsky, mapeiam o Brasil,
apresentando um quadro do fenômeno que perdurou quase trezentos anos,
marcando a mentalidade brasileira. Com pouquíssimas exceções, os
pesquisadores aos quais vou me referir no decorrer deste texto são todos
pesquisadores do LEI, orientados pela professora Anita Novinsky.Nos primeiros
séculos da colonização, os cristãos-novos estabeleceram-se
principalmente no Nordeste do Brasil, especialmente na Bahia e em
Pernambuco.
Nesse período, o
Tribunal do Santo Ofício da Inquisição de Lisboa enviou para a região
duas Visitações (em 1591-95 e em 1618), além da presença constante de
funcionários da Inquisição, comissários e familiares, que vigiavam,
prendiam e enviavam esses cristãos-novos para Lisboa, onde eram julgados
como hereges judaizantes.
Para saber quem
eram esses cristãos-novos, as principais fontes são os documentos
manuscritos do Tribunal do Santo Ofício da Inquisição e os processos de
habilitação de genere. Ambos são também fundamentais para o estudo da
“pureza de sangue” e um dos instrumentos para se conhecer a origem das
famílias. Os Estatutos de Pureza de Sangue, legislação de origem
econômica, racista, estabeleceu que os conversos, antigos judeus,
(chamados cristãos-novos em Portugal) não eram iguais aos
cristãos-velhos uma vez que o Judaísmo era transmitido pelo sangue;
esses Estatutos foram adotados pela Espanha e Portugal e em todo o
império ultramarino.
Desde o início do
século XVII os inquisidores iniciaram a composição de um Livro que
contivesse o registro dos nomes de todos os portugueses suspeitos de
qualquer culpa contra a fé e os costumes. Essa listagem continuou até a
segunda metade do século XVIII. Os nomes dos cristãos-novos naturais do
Brasil ou aqui moradores no século XVIII já se encontram publicados em
livro – Rol dos Culpados. Encontramos ali não somente os presos, mas
também aqueles denunciados como cristãos-novos. A relação mais completa
compilada até agora dos moradores do Brasil, e dos naturais do Brasil
presos pela Inquisição foi publicada recentemente por Anita Novinsky no livro Inquisição: prisioneiros do Brasil.
No século XVI, de
duzentos e vinte e três (223) prisioneiros, quarenta e nove (49) eram
cristãos-novos; no século XVII, do total de oitenta e sete (87) presos,
cinqüenta e nove (59) eram cristãos-novos. No século XVIII foram presos
seiscentos e sessenta e três (663) brasileiros, sendo quatrocentos e
oitenta e quatro (484) cristãos-novos, acusados de heresia
judaizante, o que demonstra claramente o maior interesse do Santo
Ofício pelos marranos do que por aqueles acusados de outros crimes.
O crime de que eram
acusados significava que, segundo os Inquisidores, após a conversão e o
batismo, os cristãos-novos continuavam a professar a antiga fé em
segredo. Era considerado crime, por exemplo, não trabalhar aos sábados,
não comer carne de porco, peixe de escamas, mariscos, lebre, rezar as
orações católicas sem dizer Jesus no fim, enterrar os mortos em terra
virgem e covas rasas e muitas outras práticas. Entre as celebrações mais
comuns estava o jejum do Dia Grande (o Yom Kipur) do mês de setembro, o
jejum da rainha Esther, a Páscoa Judaica (Pessach). A crença em um Deus
único, a idéia da salvação pela crença na Lei de Moisés, a espera pelo
Messias e a rejeição a imagens (feitas de pau e pedra), à idolatria e à
alguns dos dogmas cristãos (como a virgindade de Maria e o Espírito
Santo) estavam presentes entre os cristãos-novos.
Todo cristão-novo
confessava haver durante um certo tempo ter tido crença na Lei de Moisés
para nela salvar sua alma. E, por observância da dita Lei, praticara
determinadas cerimônias e se comunicara com correligionários na dita Lei.
A confissão era
necessária para salvar a vida, o processo inquisitorial assim o exigia.
Porém, é certo que, embora nem todos os cristãos-novos fossem
criptojudeus, todos conheciam o criptojudaismo e todos tinham uma
memória do Judaísmo.
Os cristãos-novos
da Bahia e Pernambuco no século XVI e início do XVII tem sido estudada
por alguns historiadores. O Doutorado recente de Ângelo de Assis,
orientando de Ronaldo Vainfas, sobre a família de Heitor Antunes e Ana
Rodrigues, senhores de engenho em Matoim, na Bahia, trouxe contribuição
significativa para o tema do criptojudaísmo.
A família Antunes mantinha
em seu engenho, ao lado da capela, uma sinoga; diziam-se descendentes
dos Macabeus bíblicos. Mantinham vários costumes judaicos, como abençoar
os filhos passando a mão pelo rosto, da cabeça ao pescoço, rezar
orações judaicas movimentando o corpo à maneira dos judeus, mostrar
repulsa a símbolos cristãos, como o crucifixo entre tantos outros.
O
patriarca já havia falecido quando o Visitador chegou à Bahia, mas a
matriarca e suas filhas foram presas e enviadas para Lisboa, onde Ana,
uma anciã com mais de 90 anos, faleceu nos cárceres.
Contemporâneo da
família Antunes foi o poeta Bento Teixeira, autor do primeiro poema
épico brasileiro, Prosopopéia, que viveu na Bahia e em Pernambuco no
final do século XVI, tema de estudo deEneida Ribeiro.Conhecedor do
Antigo Testamento, quando menino foi ensinado no Judaísmo pela mãe.
Chegou a querer se circuncidar, no que foi impedido pelo pai.
Freqüentava a sinoga, onde discutiam o Judaísmo, o papel das mulheres na
religião, e discussão de dogmas da Igreja, como a Santíssima Trindade e
a virgindade de Maria.
Brasão do santo Oficio Português |
Daniela Levy,
desenvolve pesquisa para o Mestrado sobre as vicissitudes dos judeus na
América holandesa do século XVII. A história de um povo em busca de
uma terra, as dificuldades enfrentadas em uma época de profundo antissemitismo , onde a Inquisição deixava aos judeus poucas opções de
moradia entremeiam a reconstrução dessa história.
Vivendo em um período
de “relativa” tolerância no nordeste brasileiro ocupado por holandeses,
os judeus tiveram que novamente partir, após a retomada do território
pelos portugueses. Um dos navios que saíram do Recife, com 23 judeus
chegou a colônia holandesa na América do Norte de Nova Amsterdã, atual
Nova York, esse grupo foi responsável pela fundação da primeira colônia
judaica na maior cidade da primeira nação realmente democrática do mundo.
Para o século
XVIII, estudos recentes indicam que os cristãos-novos representavam no
mínimo cerca de 10% da população livre do período no Nordeste. Em
Pernambuco, após a expulsão dos holandeses, a ação inquisitorial não
foi intensa (o Tribunal do Santo Ofício viveu na segunda metade do
século XVII um período de retração).
Muitos
cristãos-novos haviam saído de Recife e Olinda e seus arredores e se
estabelecido na Paraíba, região pertencente ao bispado de Pernambuco,
onde o Santo Ofício agiu com mais rigor no século XVIII. No século XVII
os cristãos-novos da Paraíba desfrutavam de uma posição social elevada,
mas com a crise da economia açucareira entraram em declínio. No século
XVIII ocorreu uma diversificação das atividades produtivas: 37% eram
lavradores, cerca de metade cultivando a cana de açúcar e os outros
dedicados ao plantio do tabaco, da mandioca e gêneros de subsistência.
Outros se dedicaram à criação de gado, foram homens de negócios,
militares, artesãos e alguns letrados. O que os caracteriza é que muitos
tinham duas ou mais atividades diferentes.
Como a lavoura e a pesca, a
lavoura e o comércio, o comércio e a criação de gado. Houve a tendência
de deslocamento do litoral para o sertão desde o início do século XVIII,
o que não impediu que na década de 1730 se iniciassem as prisões desses
cristãos-novos.
Segundo Fernanda
Lustosa, que estudou a região, o criptojudaísmo encontrado na comunidade
marrana da Paraíba era forte, com o ensino da Lei de Moisés presente na
maioria das famílias. Algumas cerimônias, como o jejum do “Dia Grande”,
o respeito ao Shabbat (guardar os sábados como se fossem dias santos),
vestindo neles roupa limpa, a manutenção das regras dietéticas casher,
não comendo carne de porco, coelho, lebre, peixe sem escamas e alimentos
com sangue. Rezavam os salmos de David e o Padre Nosso sem dizer Jesus
no fim. Era um grupo crítico em relação ao Catolicismo, considerando
Jesus um feiticeiro e desprezando o culto de imagens, consideradas
apenas como “pão e barro cozido”; duvidavam da virgindade de Maria e
negavam a adoração da hóstia.
Bruno Feitler[compartilha com
Lustosa a confirmação do criptojudaismo da Paraíba, em Doutoramento
defendido em Paris .
Após denúncia feita
à Inquisição em 1726, cinqüenta pessoas foram presas na Paraíba e
enviadas para julgamento em Lisboa. Duas delas receberam a pena de
morte, oito morreram nos cárceres do Santo Ofício e a maior parte nunca
voltou para a Paraíba.
Na Bahia, a
comunidade cristã-nova continuou a atividade mercantil que marcou o
século XVII, embora houvesse também senhores de engenho, lavradores,
médicos, advogados e pequenos artesãos. No século XVII, cerca de 31%
eram mercadores, 20% lavradores e o restante principalmente
artesãos.Para o século XVIII, Suzana Santos encontrou uma proporção
de mercadores maior: temos 64% dedicados ao comércio e 13% ao trabalho
agrícola (5% à mineração).
Nessa época, também predominaram as atividades comerciais. Um dos motivos desse aumento no número de mercadores é que na Bahia, muitos cristãos-novos haviam chegado à região no século XVIII, estando ali estabelecidos há pouco tempo quando o Tribunal do Santo Ofício investiu contra eles.
Nessa época, também predominaram as atividades comerciais. Um dos motivos desse aumento no número de mercadores é que na Bahia, muitos cristãos-novos haviam chegado à região no século XVIII, estando ali estabelecidos há pouco tempo quando o Tribunal do Santo Ofício investiu contra eles.
É na Bahia
encontramos um dos mais interessantes cristãos-novos: Antonio Cardoso
Porto, cristão-novo português que havia vivido na França, na comunidade
judaica de Bordeaux, chegou à Bahia no início do século XVIII.
Homem de negócios estabeleceu-se na cidade do Salvador. Conhecia e praticava o Judaísmo, e não o criptojudaísmo encontrado entre os cristãos-novos nascidos no Brasil. Ensinou sua esposa Angela de Mesquita hábitos de higiene como o banho mensal na mikve, conhecia as datas corretas das celebrações religiosas, sabia hebraico, dizia orações, nos anos em que ficara em Bordeaux, tornara-se judeu.
Homem de negócios estabeleceu-se na cidade do Salvador. Conhecia e praticava o Judaísmo, e não o criptojudaísmo encontrado entre os cristãos-novos nascidos no Brasil. Ensinou sua esposa Angela de Mesquita hábitos de higiene como o banho mensal na mikve, conhecia as datas corretas das celebrações religiosas, sabia hebraico, dizia orações, nos anos em que ficara em Bordeaux, tornara-se judeu.
Judeus deportados para Portugal |
Viajando da Bahia
para as Minas, fixando-se em São Paulo, Miguel Valladolid confessou ser
prosélito do Judaísmo, tentando passar aos cristãos-novos, já pouco
conhecedores do Judaísmo, um pouco das tradições de seus antepassados.
Apesar de ter confessado suas culpas e delas ter se arrependido, foi
condenado à morte.
Em São Paulo, que
até meados do século XVIII era uma região bastante pobre, somente três
pessoas foram presas e condenadas pelo Santo Ofício no final do século
XVII, apesar de a população cristã-nova ser bastante numerosa, tendo
raízes no século XVI, como demonstram as pesquisas de Marcelo Amaral
Bogaciovas. Dois eram irmãos, filhos de um banqueiro português, que
vieram para São Paulo para fugir do Santo Ofício. Um deles, Teotonio da
Costa, foi relaxado ao braço secular.
Desde o século XVII
encontramos cristãos-novos entre os desbravadores e formadores do
território nacional. Antonio Raposo Tavares, organizador da primeira
expedição de reconhecimento geográfico que abrangeu todo o espaço
continental da América do Sul, era de família cristã-nova de Beja, e
após a morte de sua mãe, cristã-nova, foi criado por uma prima desta
que tornou-se sua madrasta.
Enquanto Raposo Tavares estava nas minas, sua madrasta era torturada nos cárceres inquisitoriais.
Enquanto Raposo Tavares estava nas minas, sua madrasta era torturada nos cárceres inquisitoriais.
Nas Minas
Gerais, atraídos pelas oportunidades do ouro, cristãos-novos vieram
de outras regiões do Brasil, especialmente Bahia e Rio de Janeiro.
Porém, a maioria veio de Portugal. Nas minas se estabeleceram em Vila
Rica, Mariana, Serro Frio, Cachoeiro e região do rio das Mortes.
Mantinham roças de mandioca, eram mineiros, negociavam ouro e pedras
preciosas, havia alguns profissionais liberais, como médicos, mas
principalmente, dedicaram-se ao comércio, trazendo para a região gêneros
essenciais para a subsistência.
Negociantes
cristãos-novos da Bahia e do Rio de Janeiro enviavam “carregações” para
as Minas. Alguns ali mantinham residência, deixando na cidade de origem
suas famílias, indo e vindo entre a região e o litoral. Levavam para lá
vestimentas como chapéus, camisas, calções de pano de algodão;
comerciavam panos de linho, aguardente, sal, açúcar, queijos, peixe
seco, cavalos e gado e escravos.
Dos presos nas
Minas nas décadas de 1730/40, a maioria era de imigrantes recentes,
tendo chegado de Portugal no século XVIII. Foi a região que forneceu
mais cristãos-novos às fogueiras da Inquisição: seis foram relaxados à
justiça secular.
Todos eram naturais de Portugal. Diogo Correa do Vale era médico, graduado pela Universidade de Coimbra. Fugindo da perseguição do Santo Ofício, veio para o Brasil com o filho Luis, estabelecendo-se em Vila Rica. Em 1730, os dois foram presos pela Inquisição. As acusações de Judaísmo referiam-se à época em viviam em Portugal, isto é, vinte anos antes de serem presos, quando Luiz era criança. Apesar de manter sua inocência, foram condenados à morte. Insistiram que havia sempre vivido sob as leis cristãs e que nelas queriam morrer, mas sua origem judaica selou seus destinos.
Todos eram naturais de Portugal. Diogo Correa do Vale era médico, graduado pela Universidade de Coimbra. Fugindo da perseguição do Santo Ofício, veio para o Brasil com o filho Luis, estabelecendo-se em Vila Rica. Em 1730, os dois foram presos pela Inquisição. As acusações de Judaísmo referiam-se à época em viviam em Portugal, isto é, vinte anos antes de serem presos, quando Luiz era criança. Apesar de manter sua inocência, foram condenados à morte. Insistiram que havia sempre vivido sob as leis cristãs e que nelas queriam morrer, mas sua origem judaica selou seus destinos.
Judeus a caminho da Pena capital |
Foi também a
procura e a posterior descoberta do ouro que levou cristãos-novos a se
estabelecerem em Goiás, objeto de estudo do padre Adalberto Gonçalves.
Entre os cinco presos da região, estava o cristão-novo Antonio Ferreira
Dourado dono de vasta cultura, biblioteca e autor de um poema épico,
a primeira obra literária escrita em Goiás, América, que, confiscada
pelos inquisidores, até hoje desaparecida. Preso em 1761, um dos
últimos cristãos-novos presos pela Inquisição no Brasil, denunciado por
criptojudaísmo, foi condenado a cárcere e hábito penitencial a arbítrio
dos Inquisidores.
Foi no Rio de
Janeiro que o Santo Ofício atingiu com maior força a comunidade
cristã-nova, onde estava estabelecida desde o final do século XVI. Junto
com Carlos Eduardo Calaça, que estudou os letrados fluminenses, os Marranos do Rio de Janeiro são o tema principal de meus estudos.
A importância dessa
comunidade era tão marcante que um viajante francês, François Froger,
que esteve na cidade em 1695, considerou que três quartos da população
branca da cidade era de origem judaica. Representavam
aproximadamente 24% da população livre da região no início do século
XVIII.
Desses, o Tribunal do Santo Ofício prendeu e condenou trezentos e vinte e cinco pessoas acusados do crime de heresia judaizante, sendo cento e sessenta e sete mulheres.
Desses, o Tribunal do Santo Ofício prendeu e condenou trezentos e vinte e cinco pessoas acusados do crime de heresia judaizante, sendo cento e sessenta e sete mulheres.
Parte dessa
comunidade Marrana morava na cidade, exercendo atividades urbanas. Havia
os homens de negócios, mercadores, profissionais liberais como médicos e
advogados, artesãos, um mestre-escola, militares, caixeiros, alfaiates,
dois músicos, dois carpinteiros e sete padres. Mais da metade dos
cristãos-novos do Rio de Janeiro estavam ligados à atividade agrícola,
principalmente ao cultivo da cana de açúcar e ao fabrico do açúcar como
senhores de engenho, donos de partido de cana e suas famílias.
Muitos desses senhores ou partidistas tinham outras atividades, eram ao mesmo tempo médicos, advogados ou homens de negócios, mantendo residência nos engenhos e na cidade, e reforçando extensa rede de parentesco.
Residiam nas mesmas ruas que a elite colonial. Viviam próximos à elite colonial, ao governador, ao bispo, muitos pertenciam a essa elite, conviviam e comportavam-se como ela. Suas moradias, vestuário e objetos denotavam isso. Os cristãos-novos residiam exatamente nas mesmas ruas onde, como disse o cronista Rocha Pita, encontravam-se as casas “nobremente edificadas” dos moradores da cidade .
Muitos desses senhores ou partidistas tinham outras atividades, eram ao mesmo tempo médicos, advogados ou homens de negócios, mantendo residência nos engenhos e na cidade, e reforçando extensa rede de parentesco.
Residiam nas mesmas ruas que a elite colonial. Viviam próximos à elite colonial, ao governador, ao bispo, muitos pertenciam a essa elite, conviviam e comportavam-se como ela. Suas moradias, vestuário e objetos denotavam isso. Os cristãos-novos residiam exatamente nas mesmas ruas onde, como disse o cronista Rocha Pita, encontravam-se as casas “nobremente edificadas” dos moradores da cidade .
Os engenhos e
partidos de cana de açúcar dos cristãos-novos localivam-se ao redor da
cidade do Rio de Janeiro, nas freguesias de Irajá, Jacarepaguá, São
Gonçalo, São João do Meriti e Jacutinga.
Em São Gonçalo ficava uma das mais extensas redes de parentesco envolvendo partidistas. No engenho de Golambandé da Invocação de Nossa Senhora de Montesserat, pertencente à família Vale, um dos filhos do senhor tinha um partido de cana; também ali seu genro era dono de partido. Um médico, primo da família, mantinha ali um partido de cana. Dois irmãos, um dele cunhado do senhor do engenho, também tinham ali seus partidos.
Era um dos maiores engenhos do Rio de Janeiro. Além da casa grande onde morava a família, havia quatro casas utilizadas para a fábrica do engenho, pastos para 120 bois, cavalos, canaviais e matos. Mais de 120 escravos trabalhavam a terra, e cerca de 20 serviam à família como escravos domésticos.
Em São Gonçalo ficava uma das mais extensas redes de parentesco envolvendo partidistas. No engenho de Golambandé da Invocação de Nossa Senhora de Montesserat, pertencente à família Vale, um dos filhos do senhor tinha um partido de cana; também ali seu genro era dono de partido. Um médico, primo da família, mantinha ali um partido de cana. Dois irmãos, um dele cunhado do senhor do engenho, também tinham ali seus partidos.
Era um dos maiores engenhos do Rio de Janeiro. Além da casa grande onde morava a família, havia quatro casas utilizadas para a fábrica do engenho, pastos para 120 bois, cavalos, canaviais e matos. Mais de 120 escravos trabalhavam a terra, e cerca de 20 serviam à família como escravos domésticos.
A rede de
parentesco era reforçada pelo comportamento endogâmico das famílias
cristãs-novas fluminenses. Isso significa que a maioria dos casamentos
era realizado entre membros do próprio grupo e também entre membros da
mesma família. Mais de 66% dos casamentos realizados no Rio de Janeiro
entre 1670 e 1720 foram de cristãos-novos que se casaram com
cristãos-novos.
As mulheres desses
cristãos-novos também desempenharam papel ativo na construção da
sociedade fluminense. Conheciam perfeitamente bem o andamento dos
negócios dos maridos e pais, e frequentemente eram elas as senhoras dos
engenhos e dos partidos, especialmente em caso de viuvez ou da ausência
do marido – o que era costumeiro. Muitas dessas mulheres eram
alfabetizadas, o que facilitava na administração dos engenhos e
partidos. Ao contrário das demais mulheres da colônia, e até mesmo de
Portugal, na maioria analfabetas, mais da metade das cristãs-novas do
Rio de Janeiro sabiam ler e escrever. Praticamente todos os homens
cristãos-novos eram alfabetizados.
Quem foram os
descendentes dessas famílias cristãs-novas e qual o seu papel na
sociedade atual foi o tema da pesquisa de Mestrado de Paulo
Valadares, que procurou mostrar a origem judaica de importantes
famílias brasileiras .
A ação da
Inquisição em Portugal foi estudada por Benair Fernandes Ribeiro.
No trabalho de Mestrado Benair apresentou a vida e a obra do poeta e boticário cristão-novo Antonio Serrão de Castro, e prepara doutoramento sobre as imagens sobre a Inquisição. A inquisição espanhola está sendo estudada por Marcos Antonio Veiga, que trabalha com a Galícia.
No trabalho de Mestrado Benair apresentou a vida e a obra do poeta e boticário cristão-novo Antonio Serrão de Castro, e prepara doutoramento sobre as imagens sobre a Inquisição. A inquisição espanhola está sendo estudada por Marcos Antonio Veiga, que trabalha com a Galícia.
Robson Santos
prepara tese de Doutoramento sobre o anti-semitismo na Companhia de
Jesus e Renata Sancovsky prepara seu doutoramento sobre o marranismo
entre os judeus no período visigodo.
Para concluir, com o
término da distinção entre cristãos-novos e cristãos-velhos em 1773,
por ordem do Marques de Pombal, cada vez menos foi possível distinguir
os marranos na sociedade ampla. Entretanto, trabalhos recentes, como o
do genealogista Paulo Valadares e do antropólogo francês Nathan
Wachtel resgatam através da memória as origens marranas do povo
brasileiro.
Jesuitas os "Soldados de Deus" os braços e mãos fortes da inquisição. |
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