quinta-feira, 11 de junho de 2015

Inquisição: O martirio dos Marranos. (Judeus, os verdadeiros colonizadores do Brasil)





O Brasil marrano:  

Os estudos sobre o marranismo tem despertado grande interesse. No Laboratório de Estudos sobre Intolerância–LEI da Universidade de São Paulo, as pesquisas sobre Inquisição, cristãos-novos (marranos) e criptojudaismo no período colonial, dirigidas pela professora Novinsky, mapeiam o Brasil, apresentando um quadro do fenômeno que perdurou quase trezentos anos, marcando a mentalidade brasileira. Com pouquíssimas exceções, os pesquisadores aos quais vou me referir no decorrer deste texto são todos pesquisadores do LEI, orientados pela professora Anita Novinsky.Nos primeiros séculos da colonização, os cristãos-novos estabeleceram-se principalmente no Nordeste do Brasil, especialmente na Bahia e em Pernambuco.

Nesse período, o Tribunal do Santo Ofício da Inquisição de Lisboa enviou para a região duas Visitações (em 1591-95 e em 1618), além da presença constante de funcionários da Inquisição, comissários e familiares, que vigiavam, prendiam e enviavam esses cristãos-novos para Lisboa, onde eram julgados como hereges judaizantes.

Para saber quem eram esses cristãos-novos, as principais fontes são os documentos manuscritos do Tribunal do Santo Ofício da Inquisição e os processos de habilitação de genere. Ambos são também fundamentais para o estudo da “pureza de sangue” e um dos instrumentos para se conhecer a origem das famílias. Os Estatutos de Pureza de Sangue, legislação de origem econômica, racista, estabeleceu que os conversos, antigos judeus, (chamados cristãos-novos em Portugal) não eram iguais aos cristãos-velhos uma vez que o Judaísmo era transmitido pelo sangue; esses Estatutos foram adotados pela Espanha e Portugal e em todo o império ultramarino.

Desde o início do século XVII os inquisidores iniciaram a composição de um Livro que contivesse o registro dos nomes de todos os portugueses suspeitos de qualquer culpa contra a fé e os costumes. Essa listagem continuou até a segunda metade do século XVIII. Os nomes dos cristãos-novos naturais do Brasil ou aqui moradores no século XVIII já se encontram publicados em livro – Rol dos Culpados. Encontramos ali não somente os presos, mas também aqueles denunciados como cristãos-novos. A relação mais completa compilada até agora dos moradores do Brasil, e dos naturais do Brasil presos pela Inquisição foi publicada recentemente por Anita Novinsky no livro Inquisição: prisioneiros do Brasil.
No século XVI, de duzentos e vinte e três (223) prisioneiros, quarenta e nove (49) eram cristãos-novos; no século XVII, do total de oitenta e sete (87) presos, cinqüenta e nove (59) eram cristãos-novos. No século XVIII foram presos seiscentos e sessenta e três (663) brasileiros, sendo quatrocentos e oitenta e quatro (484) cristãos-novos, acusados de heresia judaizante, o que demonstra claramente o maior interesse do Santo Ofício pelos marranos do que por aqueles acusados de outros crimes.

O crime de que eram acusados significava que, segundo os Inquisidores, após a conversão e o batismo, os cristãos-novos continuavam a professar a antiga fé em segredo. Era considerado crime, por exemplo, não trabalhar aos sábados, não comer carne de porco, peixe de escamas, mariscos, lebre, rezar as orações católicas sem dizer Jesus no fim, enterrar os mortos em terra virgem e covas rasas e muitas outras práticas. Entre as celebrações mais comuns estava o jejum do Dia Grande (o Yom Kipur) do mês de setembro, o jejum da rainha Esther, a Páscoa Judaica (Pessach). A crença em um Deus único, a idéia da salvação pela crença na Lei de Moisés, a espera pelo Messias e a rejeição a imagens (feitas de pau e pedra), à idolatria e à alguns dos dogmas cristãos (como a virgindade de Maria e o Espírito Santo) estavam presentes entre os cristãos-novos.

Todo cristão-novo confessava haver durante um certo tempo ter tido crença na Lei de Moisés para nela salvar sua alma. E, por observância da dita Lei, praticara determinadas cerimônias e se comunicara com correligionários na dita Lei.

A confissão era necessária para salvar a vida, o processo inquisitorial assim o exigia. Porém, é certo que, embora nem todos os cristãos-novos fossem criptojudeus, todos conheciam o criptojudaismo e todos tinham uma memória do Judaísmo.

Os cristãos-novos da Bahia e Pernambuco no século XVI e início do XVII tem sido estudada por alguns historiadores. O Doutorado recente de Ângelo de Assis, orientando de Ronaldo Vainfas, sobre a família de Heitor Antunes e Ana Rodrigues, senhores de engenho em Matoim, na Bahia, trouxe contribuição significativa para o tema do criptojudaísmo.
A família Antunes mantinha em seu engenho, ao lado da capela, uma sinoga; diziam-se descendentes dos Macabeus bíblicos. Mantinham vários costumes judaicos, como abençoar os filhos passando a mão pelo rosto, da cabeça ao pescoço, rezar orações judaicas movimentando o corpo à maneira dos judeus, mostrar repulsa a símbolos cristãos, como o crucifixo entre tantos outros. 
O patriarca já havia falecido quando o Visitador chegou à Bahia, mas a matriarca e suas filhas foram presas e enviadas para Lisboa, onde Ana, uma anciã com mais de 90 anos, faleceu nos cárceres.
Contemporâneo da família Antunes foi o poeta Bento Teixeira, autor do primeiro poema épico brasileiro, Prosopopéia, que viveu na Bahia e em Pernambuco no final do século XVI, tema de estudo deEneida Ribeiro.Conhecedor do Antigo Testamento, quando menino foi ensinado no Judaísmo pela mãe.
Chegou a querer se circuncidar, no que foi impedido pelo pai. Freqüentava a sinoga, onde discutiam o Judaísmo, o papel das mulheres na religião, e discussão de dogmas da Igreja, como a Santíssima Trindade e a virgindade de Maria.

Brasão do santo Oficio Português
A Bahia do século XVII foi o tema de Anita Novinsky, com sua obra Clássica Cristãos-novos na Bahia, onde apresenta o conceito fundamental para a compreensão do fenômeno do cristão-novo: o “homem dividido”, dividido entre o mundo católico e o judaico, conceito que vários autores tem adotado como Yovel, Morin, Abensur e tantos outros filósofos.

Daniela Levy, desenvolve pesquisa para o Mestrado sobre as vicissitudes dos judeus na América holandesa do século XVII. A história de um povo em busca de uma terra, as dificuldades enfrentadas em uma época de profundo antissemitismo , onde a Inquisição deixava aos judeus poucas opções de moradia entremeiam a reconstrução dessa história.
Vivendo em um período de “relativa” tolerância no nordeste brasileiro ocupado por holandeses, os judeus tiveram que novamente partir, após a retomada do território pelos portugueses. Um dos navios que saíram do Recife, com 23 judeus chegou a colônia holandesa na América do Norte de Nova Amsterdã, atual Nova York, esse grupo foi responsável pela fundação da primeira colônia judaica na maior cidade da primeira nação realmente democrática do mundo.

Para o século XVIII, estudos recentes indicam que os cristãos-novos representavam no mínimo cerca de 10% da população livre do período no Nordeste. Em Pernambuco, após a expulsão dos holandeses, a ação inquisitorial não foi intensa (o Tribunal do Santo Ofício viveu na segunda metade do século XVII um período de retração).

Muitos cristãos-novos haviam saído de Recife e Olinda e seus arredores e se estabelecido na Paraíba, região pertencente ao bispado de Pernambuco, onde o Santo Ofício agiu com mais rigor no século XVIII. No século XVII os cristãos-novos da Paraíba desfrutavam de uma posição social elevada, mas com a crise da economia açucareira entraram em declínio. No século XVIII ocorreu uma diversificação das atividades produtivas: 37% eram lavradores, cerca de metade cultivando a cana de açúcar e os outros dedicados ao plantio do tabaco, da mandioca e gêneros de subsistência.
Outros se dedicaram à criação de gado, foram homens de negócios, militares, artesãos e alguns letrados. O que os caracteriza é que muitos tinham duas ou mais atividades diferentes.
Como a lavoura e a pesca, a lavoura e o comércio, o comércio e a criação de gado. Houve a tendência de deslocamento do litoral para o sertão desde o início do século XVIII, o que não impediu que na década de 1730 se iniciassem as prisões desses cristãos-novos.

Segundo Fernanda Lustosa, que estudou a região, o criptojudaísmo encontrado na comunidade marrana da Paraíba era forte, com o ensino da Lei de Moisés presente na maioria das famílias. Algumas cerimônias, como o jejum do “Dia Grande”, o respeito ao Shabbat (guardar os sábados como se fossem dias santos), vestindo neles roupa limpa, a manutenção das regras dietéticas casher, não comendo carne de porco, coelho, lebre, peixe sem escamas e alimentos com sangue. Rezavam os salmos de David e o Padre Nosso sem dizer Jesus no fim. Era um grupo crítico em relação ao Catolicismo, considerando Jesus um feiticeiro e desprezando o culto de imagens, consideradas apenas como “pão e barro cozido”; duvidavam da virgindade de Maria e negavam a adoração da hóstia.
Bruno Feitler[compartilha com Lustosa a confirmação do criptojudaismo da Paraíba, em Doutoramento defendido em Paris .

Após denúncia feita à Inquisição em 1726, cinqüenta pessoas foram presas na Paraíba e enviadas para julgamento em Lisboa. Duas delas receberam a pena de morte, oito morreram nos cárceres do Santo Ofício e a maior parte nunca voltou para a Paraíba.

Na Bahia, a comunidade cristã-nova continuou a atividade mercantil que marcou o século XVII, embora houvesse também senhores de engenho, lavradores, médicos, advogados e pequenos artesãos. No século XVII, cerca de 31% eram mercadores, 20% lavradores e o restante principalmente artesãos.Para o século XVIII, Suzana Santos encontrou uma proporção de mercadores maior: temos 64% dedicados ao comércio e 13% ao trabalho agrícola (5% à mineração).
Nessa época, também predominaram as atividades comerciais. Um dos motivos desse aumento no número de mercadores é que na Bahia, muitos cristãos-novos haviam chegado à região no século XVIII, estando ali estabelecidos há pouco tempo quando o Tribunal do Santo Ofício investiu contra eles.

É na Bahia encontramos um dos mais interessantes cristãos-novos: Antonio Cardoso Porto, cristão-novo português que havia vivido na França, na comunidade judaica de Bordeaux, chegou à Bahia no início do século XVIII. 
Homem de negócios estabeleceu-se na cidade do Salvador. Conhecia e praticava o Judaísmo, e não o criptojudaísmo encontrado entre os cristãos-novos nascidos no Brasil. Ensinou sua esposa Angela de Mesquita hábitos de higiene como o banho mensal na mikve, conhecia as datas corretas das celebrações religiosas, sabia hebraico, dizia orações, nos anos em que ficara em Bordeaux, tornara-se judeu.

Judeus deportados para Portugal
Era amigo de Miguel de Mendonça Valladolid, outro cristão-novo retornado ao Judaísmo (que na Bahia voltou, ao menos formalmente ao Cristianismo, tendo se re-batizado). Espanhol, vivera na Holanda e França. Chegou à Bahia no mesmo período que Antonio Cardoso Porto, e os dois podem ser considerado como heresiarcas (aqueles que ensinavam o Judaísmo aos outros cristãos-novos).

Viajando da Bahia para as Minas, fixando-se em São Paulo, Miguel Valladolid confessou ser prosélito do Judaísmo, tentando passar aos cristãos-novos, já pouco conhecedores do Judaísmo, um pouco das tradições de seus antepassados. Apesar de ter confessado suas culpas e delas ter se arrependido, foi condenado à morte.

Em São Paulo, que até meados do século XVIII era uma região bastante pobre, somente três pessoas foram presas e condenadas pelo Santo Ofício no final do século XVII, apesar de a população cristã-nova ser bastante numerosa, tendo raízes no século XVI, como demonstram as pesquisas de Marcelo Amaral Bogaciovas. Dois eram irmãos, filhos de um banqueiro português, que vieram para São Paulo para fugir do Santo Ofício. Um deles, Teotonio da Costa, foi relaxado ao braço secular.

Desde o século XVII encontramos cristãos-novos entre os desbravadores e formadores do território nacional. Antonio Raposo Tavares, organizador da primeira expedição de reconhecimento geográfico que abrangeu todo o espaço continental da América do Sul, era de família cristã-nova de Beja, e após a morte de sua mãe, cristã-nova, foi criado por uma prima desta que tornou-se sua madrasta.
Enquanto Raposo Tavares estava nas minas, sua madrasta era torturada nos cárceres inquisitoriais.

Nas Minas Gerais, atraídos pelas oportunidades do ouro, cristãos-novos vieram de outras regiões do Brasil, especialmente Bahia e Rio de Janeiro. Porém, a maioria veio de Portugal. Nas minas se estabeleceram em Vila Rica, Mariana, Serro Frio, Cachoeiro e região do rio das Mortes. Mantinham roças de mandioca, eram mineiros, negociavam ouro e pedras preciosas, havia alguns profissionais liberais, como médicos, mas principalmente, dedicaram-se ao comércio, trazendo para a região gêneros essenciais para a subsistência.

Negociantes cristãos-novos da Bahia e do Rio de Janeiro enviavam “carregações” para as Minas. Alguns ali mantinham residência, deixando na cidade de origem suas famílias, indo e vindo entre a região e o litoral. Levavam para lá vestimentas como chapéus, camisas, calções de pano de algodão; comerciavam panos de linho, aguardente, sal, açúcar, queijos, peixe seco, cavalos e gado e escravos.

Dos presos nas Minas nas décadas de 1730/40, a maioria era de imigrantes recentes, tendo chegado de Portugal no século XVIII. Foi a região que forneceu mais cristãos-novos às fogueiras da Inquisição: seis foram relaxados à justiça secular. 
Todos eram naturais de Portugal. Diogo Correa do Vale era médico, graduado pela Universidade de Coimbra. Fugindo da perseguição do Santo Ofício, veio para o Brasil com o filho Luis, estabelecendo-se em Vila Rica. Em 1730, os dois foram presos pela Inquisição. As acusações de Judaísmo referiam-se à época em viviam em Portugal, isto é, vinte anos antes de serem presos, quando Luiz era criança. Apesar de manter sua inocência, foram condenados à morte. Insistiram que havia sempre vivido sob as leis cristãs e que nelas queriam morrer, mas sua origem judaica selou seus destinos.

Judeus a caminho da Pena capital
Segundo Anita Novinsky, as práticas judaicas em Minas Gerais eram imbuídas de simbolismo e as comunicações secretas se davam freqüentemente através de códigos. As observâncias concentravam-se principalmente no jejum de Yom Kipur, a guarda do Shabbath, a celebração do Pessach e a festa em honra da rainha Esther, além de algumas das restrições dietéticas.

Foi também a procura e a posterior descoberta do ouro que levou cristãos-novos a se estabelecerem em Goiás, objeto de estudo do padre Adalberto Gonçalves. Entre os cinco presos da região, estava o cristão-novo Antonio Ferreira Dourado dono de vasta cultura, biblioteca e autor de um poema épico, a primeira obra literária escrita em Goiás, América, que, confiscada pelos inquisidores, até hoje desaparecida. Preso em 1761, um dos últimos cristãos-novos presos pela Inquisição no Brasil, denunciado por criptojudaísmo, foi condenado a cárcere e hábito penitencial a arbítrio dos Inquisidores.

Foi no Rio de Janeiro que o Santo Ofício atingiu com maior força a comunidade cristã-nova, onde estava estabelecida desde o final do século XVI. Junto com Carlos Eduardo Calaça, que estudou os letrados fluminenses, os Marranos do Rio de Janeiro são o tema principal de meus estudos.

A importância dessa comunidade era tão marcante que um viajante francês, François Froger, que esteve na cidade em 1695, considerou que três quartos da população branca da cidade era de origem judaica. Representavam aproximadamente 24% da população livre da região no início do século XVIII.
Desses, o Tribunal do Santo Ofício prendeu e condenou trezentos e vinte e cinco pessoas acusados do crime de heresia judaizante, sendo cento e sessenta e sete mulheres.

Parte dessa comunidade Marrana morava na cidade, exercendo atividades urbanas. Havia os homens de negócios, mercadores, profissionais liberais como médicos e advogados, artesãos, um mestre-escola, militares, caixeiros, alfaiates, dois músicos, dois carpinteiros e sete padres. Mais da metade dos cristãos-novos do Rio de Janeiro estavam ligados à atividade agrícola, principalmente ao cultivo da cana de açúcar e ao fabrico do açúcar como senhores de engenho, donos de partido de cana e suas famílias. 
Muitos desses senhores ou partidistas tinham outras atividades, eram ao mesmo tempo médicos, advogados ou homens de negócios, mantendo residência nos engenhos e na cidade, e reforçando extensa rede de parentesco. 
Residiam nas mesmas ruas que a elite colonial. Viviam próximos à elite colonial, ao governador, ao bispo, muitos pertenciam a essa elite, conviviam e comportavam-se como ela. Suas moradias, vestuário e objetos denotavam isso. Os cristãos-novos residiam exatamente nas mesmas ruas onde, como disse o cronista Rocha Pita, encontravam-se as casas “nobremente edificadas” dos moradores da cidade .

Os engenhos e partidos de cana de açúcar dos cristãos-novos localivam-se ao redor da cidade do Rio de Janeiro, nas freguesias de Irajá, Jacarepaguá, São Gonçalo, São João do Meriti e Jacutinga.
Em São Gonçalo ficava uma das mais extensas redes de parentesco envolvendo partidistas. No engenho de Golambandé da Invocação de Nossa Senhora de Montesserat, pertencente à família Vale, um dos filhos do senhor tinha um partido de cana; também ali seu genro era dono de partido. Um médico, primo da família, mantinha ali um partido de cana. Dois irmãos, um dele cunhado do senhor do engenho, também tinham ali seus partidos. 
Era um dos maiores engenhos do Rio de Janeiro. Além da casa grande onde morava a família, havia quatro casas utilizadas para a fábrica do engenho, pastos para 120 bois, cavalos, canaviais e matos. Mais de 120 escravos trabalhavam a terra, e cerca de 20 serviam à família como escravos domésticos.

A rede de parentesco era reforçada pelo comportamento endogâmico das famílias cristãs-novas fluminenses. Isso significa que a maioria dos casamentos era realizado entre membros do próprio grupo e também entre membros da mesma família. Mais de 66% dos casamentos realizados no Rio de Janeiro entre 1670 e 1720 foram de cristãos-novos que se casaram com cristãos-novos.

As mulheres desses cristãos-novos também desempenharam papel ativo na construção da sociedade fluminense. Conheciam perfeitamente bem o andamento dos negócios dos maridos e pais, e frequentemente eram elas as senhoras dos engenhos e dos partidos, especialmente em caso de viuvez ou da ausência do marido – o que era costumeiro. Muitas dessas mulheres eram alfabetizadas, o que facilitava na administração dos engenhos e partidos. Ao contrário das demais mulheres da colônia, e até mesmo de Portugal, na maioria analfabetas, mais da metade das cristãs-novas do Rio de Janeiro sabiam ler e escrever. Praticamente todos os homens cristãos-novos eram alfabetizados.

Quem foram os descendentes dessas famílias cristãs-novas e qual o seu papel na sociedade atual foi o tema da pesquisa de Mestrado de Paulo Valadares, que procurou mostrar a origem judaica de importantes famílias brasileiras .

A ação da Inquisição em Portugal foi estudada por Benair Fernandes Ribeiro.
No trabalho de Mestrado Benair apresentou a vida e a obra do poeta e boticário cristão-novo Antonio Serrão de Castro, e prepara doutoramento sobre as imagens sobre a Inquisição. A inquisição espanhola está sendo estudada por Marcos Antonio Veiga, que trabalha com a Galícia.

Robson Santos prepara tese de Doutoramento sobre o anti-semitismo na Companhia de Jesus e Renata Sancovsky prepara seu doutoramento sobre o marranismo entre os judeus no período visigodo.

Para concluir, com o término da distinção entre cristãos-novos e cristãos-velhos em 1773, por ordem do Marques de Pombal, cada vez menos foi possível distinguir os marranos na sociedade ampla. Entretanto, trabalhos recentes, como o do genealogista Paulo Valadares e do antropólogo francês Nathan Wachtel resgatam através da memória as origens marranas do povo brasileiro.

Jesuitas os "Soldados de Deus" os braços e mãos fortes da inquisição.


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