domingo, 10 de julho de 2016

Biografia : Quem foi João Ferreira de Almeida. O tradutor da Bíblia em português.

João Ferreira de Almeida nasceu no ano de 1628 em Lisboa, Portugal. Filho de pais católicos romanos ficou órfão ainda criança sendo criado por um tio, que era membro de uma ordem religiosa. Não se sabe muito sobre sua infância, mas afirma-se que ele tenha recebido uma educação excepcional a fim de que entrasse no sacerdócio. Talvez pela forte influência da Inquisição em Portugal, viajou para a Holanda e, aos 14 anos, embarcou para a Ásia.
Naquela ocasião, ao velejar entre a Batávia e Málaca, na Malásia, Almeida leu um folheto protestante em espanhol intitulado Diferencias de la Cristandad (Diferenças da Cristandade). O conteúdo do folheto atacava doutrinas e conceitos católicos como: uso de línguas incompreensíveis para o povo comum, tal como o latim, durante os ofícios religiosos. O folheto o impactou e, em Málaca se converteu e, em 1642, passou a servir à Igreja Reformada Holandesa dedicando-se, imediatamente, a tradução dos evangelhos do castelhano para o português.
Almeida começou o seu trabalho pela Igreja Reformada Holandesa na Ásia como “visitador de doentes” e, em seguida, como pastor suplente. No tempo de Almeida, um tradutor para a língua portuguesa era muito útil naquela região onde havia cada vez mais cristãos protestantes de fala portuguesa, geralmente convertidos do catolicismo. Mas o português de Almeida, tanto na escrita quanto na pregação, era muito erudito e de difícil compreensão.
Frontispício  do Novo Testamento,  1681.
Dois anos depois Almeida se engajou no projeto de traduzir o Novo testamento para o português e usou como fontes nessa tradução, além da espanhola Reyna Valera de 1569, as versões: Latina (de Beza), Francesa (Genebra, 1588) e Italiana (Diodati, 1641) – todas traduzidas do grego e do hebraico. Em menos de um ano, em 1645, Almeida com 16 anos de idade, já havia traduzido todo o Novo Testamento para o português, mas não houve nenhuma iniciativa para que o seu trabalho fosse impresso. Apenas algumas cópias manuscritas foram feitas do Novo Testamento traduzido por Almeida. Depois do texto ter sido enviado ao governador geral holandês, o trabalho desapareceu e o responsável pela publicação havia falecido.
Em março de 1651, Almeida foi à Batávia com uma carta de recomendação da congregação de Málaca, com isso, o aceitaram como capelão dando-lhe a oportunidade de estudar Teologia. Atas registram que algum tempo depois ele estava ensinando a escravos no Castelo e lhe foi ordenado, ainda em 1651, que fizesse cópias com correções, se necessário, de “partes do Novo Testamento em português” para a congregação de Galle, no Ceilão, quando descobriu que seu trabalho havia desaparecido. A partir das cópias e rascunhos de seu trabalho anterior, Almeida refez e revisou o trabalho, e concluiu no ano seguinte os Evangelhos e o livro de Atos dos Apóstolos.
Um intrépido condenado a morte.
Em 17 de março de 1654, Almeida foi aceito como candidato para o ministério da Palavra. Além de traduzir as Escrituras, João tinha agora a incumbência de ensinar o português para outros que quisessem aprender a traduzir livros. Deveria também instruir os professores “nativos” (cristãos nascidos no sudoeste da Ásia, dentro ou fora da Indonésia, e que haviam ido à Batávia).
Submetido ao exame, é ordenado pastor e missionário, em 1656, sendo indicado para o Presbitério do Ceilão, para onde foi com o colega Baldaeus. Foi, provavelmente, nesta época que Almeida veio a conhecer Lucretia Valcoa de Lemmes(ou Lucrécia de Lamos), também vinda do catolicismo romano para o protestantismo com ele, e que tornou-se sua mulher. Mais tarde a família completou-se, com o nascimento de um menino e de uma menina. Depois Almeida foi para a Índia, por isso, é considerado pioneiro entre os protestantes naquele país. Acredita-se que estes tenham sido os anos de maior tensão de sua vida, pois, pregava contundentemente contra as práticas que considerava doutrinas falsas da Igreja Católica, além de expor denúncias de corrupção moral entre o clero. Por causa de sua posição tão forte contra o que ele chamava de “superstições papistas”, Almeida foi considerado por muitos das comunidades de fala portuguesa como apóstata e traidor e o governo até tentou impedi-lo de pregar em português, mas sem sucesso. Esses confrontos chegaram a levar seu nome à juízo no tribunal da Inquisição em Goa, Índia, em 1661, sendo sentenciado à morte por heresia. O governador geral da Holanda chamou-o de volta à Batávia, o que evitou que a sentença fosse consumada.
Um cristão intenso.
Epístola aos Hebreus, 1681.
Almeida assumiu, em 1663, o trabalho na congregação de fala portuguesa da Batávia, onde ficou até o final da vida. Nesta nova fase, teve uma intensa atividade como pastor. O que está registrado a esse respeito revela muito de suas idéias e personalidade. Ele convenceu o presbitério de que a congregação que dirigia deveria ter a sua própria cerimônia da Ceia do Senhor. Ele se ofereceu para visitar os escravos da Companhia das Índias nos bairros em que moravam, para lhes ensinar religião, mas a sugestão não foi aceita pelo presbitério. Almeida com muita freqüência alertava a congregação a respeito das “influências papistas”.
Ao mesmo tempo, retomou o trabalho de tradução da Bíblia. João começou a dominar a língua holandesa e a estudar grego e hebraico. Em 1676, ele apresentou o Novo Testamento pronto ao presbitério, que exigia que o trabalho passasse pelos revisores de sua indicação. Almeida sabia que precisaria daquela recomendação para que conseguisse as permissões do Governo da Batávia e da Companhia das Índias Orientais, na Holanda, para que o seu trabalho fosse impresso. A relação entre Almeida e os revisores era tensa por causa das diferenças de opinião sobre significado e estilo do português de algumas palavras. Quatro anos depois, ainda se discutia os capítulos iniciais do Evangelho de Lucas. Almeida decidiu enviar, sem o conhecimento dos revisores, o material para a Holanda a fim de que fosse publicado. E o presbitério, que teve uma reação negativa, conseguiu parar o processo, e a impressão foi interrompida. Alguns meses depois, ao tempo de algumas discussões e brigas, quando o tradutor já estava quase desistindo de apressar a publicação de seu texto, chegaram cartas da Holanda trazendo a notícia de que aquele manuscrito havia sido revisado e estava sendo impresso naquele país. Em 1682 cópias chegaram à Ásia. No entanto, os revisores conseguiram fazer alterações no trabalho de Almeida, que ficou insatisfeito com a primeira impressão e, com o apoio do governo holandês, mandou destruir tudo. Salvas algumas cópias que Almeida conseguiu para que, até a nova impressão, os erros principais fossem corrigidos à mão.
O seu trabalho esta ai...
Os revisores voltaram à Batávia para concluir o trabalho de revisão do Novo Testamento e avançar para o Velho Testamento à medida que Almeida ia completando. Almeida deixou o trabalho missionário já com a saúde bastante abalada, em 1689, e passou a se dedicar plenamente à tradução. João Ferreira de Almeida morreu em 1691 enquanto traduzia o último capítulo do livro do profeta Ezequiel. Coube ao seu amigo Jacobus op den Akker completar a tradução em 1694.
O Novo Testamento em português de Almeida foi revisto pouco antes de sua morte e veio a ser publicada a segunda edição em 1693. Alguns historiadores afirmam, porém, que a segunda edição também teve alterações feitas pelos revisores. A motivação para a continuação da obra de tradução da Bíblia para o português na Ásia se perdeu e foi a pedido dos missionários dinamarqueses em Tranquebar, no sul da Índia até então parte da Índia Dinamarquesa, que uma sociedade inglesa, a Society for Promoting Christian Knowledge, em Londres, financiou a terceira edição do Novo Testamento de Almeida, em 1711. Durante o Século XIX, a British and Foreign Bible Society e a American Bible Society distribuíram milhares de exemplares da versão de Almeida em Portugal e nas principais cidades do Brasil. Este fato provocou um grande apreço popular pela Tradução de João Ferreira de Almeida das Escrituras Sagradas para o Português, sendo usada, principalmente, pelos cristãos evangélicos de fala portuguesa.
Atualmente a edição no Brasil é feita principalmente pela Sociedade Bíblica do Brasil e pela Sociedade Trinitariana do Brasil.
A tradução posta a prova.
Codex Laudianus
Quando estudei Grego Koinê (ou Bíblico) Avançado, meus colegas e eu tivemos um trabalho em que deveríamos traduzir versículos do Novo Testamento em Grego (baseado nas melhores cópias já encontradas) para o Português. Qual foi a nossa surpresa ao constatarmos que, em comparação com outras traduções, a tradução de João Ferreira de Almeida foi a escolha de 80% dos grupos no quesito fidelidade à ortografia bíblica, ou seja, o texto como ele foi escrito originalmente (conforme o manuscrito fonte). Isto, claro, não desmerece outros trabalhos tão esmerados quanto, como a Nova Versão Internacional, cuja proposta é o Português médio e não, necessariamente, toda a profundidade da palavra original, que acaba se perdendo aqui e ali, pois o sentido principal é mantido sem distanciar-se.
Referências
CARDOSO, Manuel Pedro (1998). Biografia João Ferreira de Almeida

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