Flávio Josefo, ou apenas Josefo
(em latim:
Flavius Josephus), também conhecido pelo seu nome
hebraico Yosef ben Mattityahu (יוסף בן מתתיהו, "José, filho de Matias
[Matias é variante de Mateus]") e, após se tornar um cidadão
romano, como Tito Flávio
Josefo (latim:
Titus Flavius Josephus), foi um
historiador
e apologista
judaico-romano,
descendente de uma linhagem de importantes sacerdotes
e reis,
que registrou in loco a destruição de Jerusalém, em 70 d.C., pelas tropas do imperador
romano Vespasiano,
comandadas por seu filho Tito, futuro imperador. As obras de Josefo
fornecem um importante panorama do judaísmo
no século I.
Suas duas
obras mais importantes são Guerra dos
Judeus (c. 75) e Antiguidades Judaicas (c. 94). O
primeiro é fonte primária para o estudo da revolta judaica contra
Roma (66-70 ), enquanto o segundo conta a história do mundo sob uma perspectiva
judaica. Estas obras fornecem informações valiosas sobre a sociedade judaica da
época, bem como sobre o período que viu a separação definitiva do cristianismo
do judaísmo e as origens da Dinastia
Flaviana, que reinaria de 69 a 96.
Biografia
As
informações de que dispomos sobre a sua vida provêm principalmente de sua autobiografia (Vida de Flávio Josefo). Josefo, que se
apresentou em grego como Iósepos (Ιώσηπος), filho de Matias, sacerdote
judaico,
teria nascido em Jerusalém numa família de cohanim
(sacerdotes), onde teria recebido uma educação sólida na Torá.
Sua mãe descendia da família real dos Hasmoneus.
Aos treze anos de idade, ele iniciou o seu aprendizado sobre três das quatro
seitas judaicas: saduceus, fariseus e essênios optando aos dezenove anos de idade por aderir ao
farisaísmo. Em sua obra, Josefo atribui aos zelotas,
a quarta seita, a responsabilidade por ter incitado a revolta contra os romanos,
que conduziu à destruição de Jerusalém e do Templo.
Em 64, contando com vinte e
seis anos de idade, seguiu numa embaixada a Roma onde obteve, por
intermédio de Popeia Sabina, esposa do imperador
romano Nero,
a libertação de alguns sacerdotes hebreus condenados pelo governador da Judeia, Marco Antônio Félix. Ao regressar à Judeia,
Jerusalém encontrava-se à beira da revolta. Josefo procurou dissuadir os
líderes mas os seus esforços foram inúteis, tendo os revoltosos tomado a Fortaleza Antônia (66). Josefo, com receio de
ser acusado de partidário dos romanos, refugiou-se no Templo. Entretanto, após
a morte de Manaém
e dos principais líderes da revolta, uniu-se aos sacerdotes do Sinédrio
(Sanhedrin) que, naquele
momento, aguardavam a chegada das tropas de Cássio
para sufocar a revolta, o que não se concretizou pela derrota destas.
Foi
enviado pelo Sinédrio para a Galileia. À sua chegada, relatou a Jerusalém que os galileus
estavam prestes a marchar sobre Séforis,
cidade leal a Roma. Foi designado então, pelo Sinédrio, para governar
militarmente a província, que fez fortificar. Defrontou-se com a oposição dos
extremistas liderados por João de Giscala, que o
acusavam de tender à contemporização.
Enfrentou
as forças de Plácido, enviadas por Géstio Galo para a região.
Em 67, as tropas de Vespasiano
tomaram Jotapata, e Josefo, com quarenta homens,
escondeu-se em uma cisterna. Com a descoberta do esconderijo, foi-lhes proposto
que se rendessem, em troca, das próprias vidas. Josefo teria sugerido então um
método de suicídio coletivo: tirariam a sorte e matariam-se uns aos outros, de
três em três pessoas; restaram apenas Josefo e mais um homem. Há quem veja o
ocorrido como um problema matemático, por vezes designado como problema de Josefo ou Roleta Romana) Josefo convenceu este
seu soldado a se entregar então às forças romanas que invadiram a Galileia, em
julho de 67, tornando-se prisioneiro de guerra. As tropas romanas do imperador
romano, (Flávio) Vespasiano, eram comandadas por seu filho, Tito, ele próprio futuro imperador. Em 69, Josefo foi libertado
e, de acordo com seu próprio relato, teria tido um papel de relevo como
negociador com as tropas de resistência durante o cerco de Jerusalém, em 70, fazendo discursos
incitando os revoltosos ao arrependimento, sem que fosse ouvido. Indo para
Roma, após a queda de Jerusalém, foi bem aceito, assumindo o nome romano de seu
protetor Flávio Vespasiano, e recebido a cidadania
romana. Passou também a receber uma generosa pensão. Além disso,
tratou de aumentar suas rendas, obtendo permissão de Vespasiano para, através
de seus agentes, adquirir, a preço vil, terras na Judeia, confiscadas dos
envolvidos na revolta. As honrarias prosseguiram sob o reinado de Tito e de
Domiciano.
Domiciano.
Em 71, Josefo chegou a Roma
com a comitiva de Tito; cidadão romano, passou a ser um cliente da dinastia
dominante, os flavianos. foi durante sua estada em Roma, e
sob patronagem flaviana, que escreveu todas as suas obras conhecidas. Embora
Josefo só se refira a si próprio por este nome, parece ter adotado o prenome Tito (Titus) e o nome Flávio (Flavius) de seus patrões. Esta prática era
costumeira para todos os 'novos ' cidadãos romanos.
A
primeira esposa de Josefo morreu, juntamente com seus pais, durante o cerco de
Jerusalém, e Vespasiano arranjou-lhe um casamento com uma mulher judaica que
também havia sido capturada. Esta mulher o abandonou e, por volta de 70, ele
casou com uma judia de Alexandria, com quem teve três filhos. Apenas um, Flávio
Hircano (Flavius Hyrcanus),
sobreviveu além da infância. Josefo se divorciou posteriormente desta sua
terceira esposa e, no ano 75, se casou pela quarta vez, com uma judia de uma
família distinta de Creta.
Este último casamento produziu dois filhos, Flávio Justo (Flavius Justus) e Flávio Simônides
Agripa (Flavius Simonides Agrippa).
A vida de
Josefo é recheada de ambiguidades; para seus críticos, ele nunca explicou
satisfatoriamente seus atos durante a Guerra Judaica como por que ele não
teria cometido suicídio na Galileia, com seus companheiros, e por que, depois
de sua captura, aceitou a patronagem dos romanos. Seus críticos, no entanto,
ignoram o fato de que Simão bar Giora e João de Giscala, ambos
zelotas extremistas e grandes oponentes de Josefo que permaneceram em Jerusalém
e lideraram os combates contra os romanos em sua última etapa, preferiram um
momento de honestidade a vida ao suicídio, e humildememente se renderam aos
romanos. Aqueles que viram Josefo como um traidor e informante também
questionaram sua credibilidade como historiador desprezando suas obras como propaganda romana ou uma apologética
pessoal, destinada a reabilitar sua reputação histórica. Mais recentemente, os
críticos vêm reavaliando as visões pré-concebidas de Josefo. Um argumento
importante é a comparação entre os danos causados por seus atos e aqueles dos
idealistas que reprovaram seu comportamento; enquanto Josefo teria sido responsável
pelo suicídio de alguns soldados, pela humilhação temporária de um exército
enfraquecido e pelo transtorno de uma esposa, os bons, leais, idealistas e
corajosos, devotos e patrióticos líderes de Jerusalém tinham sacrificados
dezenas de milhares de vidas à causa da liberdade; Tito e Vespasiano
sacrificaram dezenas de milhares mais à causa da ordem civil, e até mesmo
Agripa II, o rei da Judéia, cliente romano, que fez tudo o que podia para
evitar a guerra, acabou supervisionando a destruição de meia dúzia de cidades e
a venda de seus habitantes como escravos.
Josefo
foi sem dúvida alguma um importante apologista, no mundo romano,
para a cultura e o povo judaico, particularmente numa época de conflito e
tensão. Sempre permaneceu, pelo menos em seus próprios olhos, um judeu leal e
cumpridor das leis. Fez tudo o que podia para indicar o judaísmo aos gentis
letrados, e para insistir sobre sua compatibilidade com o pensamento aculturado
greco-romano. Constantemente se manifestou a respeito da antiguidade da cultura
judaica, apresentando seu povo como civilizado, devoto e filosófico. Eusébio
relata que uma estátua de Josefo teria sido erguida em Roma.
Obra
Escreveu
um relato da Grande Revolta Judaica,
dirigida à comunidade judaica da Mesopotâmia,
em língua aramaica. Escreveu, depois, em grego,
outra obra de cariz histórico que abarcava o período que vai dos Macabeus
até à queda de Jerusalém. Este livro, a Guerra dos
Judeus, foi publicado em 79. A maior parte do livro é directamente inspirada na sua
própria vida e experiência militar e administrativa.
As Antiguidades Judaicas (escritas cerca de 94 em grego)
é a história dos Judeus desde a criação do Génesis
até à irrupção da guerra da década de 60.
Acrescentou, no final, um apêndice autobiográfico onde defendeu a sua posição
colaboracionista em relação aos invasores romanos. O seu relato, ainda que com
um paralelismo evidente em relação ao Antigo
Testamento, não é idêntico ao das escrituras sagradas. Há quem
defenda que estas diferenças se devam à possibilidade de Josefo ter tido acesso
a documentos antigos (que remontariam até à época de Neemias) que teriam
sobrevivido à destruição do templo. A maior parte dos académicos não dá crédito
a tal suposição. Neste livro encontra-se o famoso Testimonium Flavianum, uma das referências
mais antigas a Jesus, mas considerada por alguns estudiosos uma interpolação
fraudulenta posterior.
Contra Apião é outra obra importante deste
autor, onde o judaísmo é defendido como religião e filosofia realmente
clássica, em contraponto às tradições mais recentes dos gregos. O livro serve
para expor e refutar algumas alegações anti-semíticas
de Apião,
bem como mitos antigos, como os de Manetão.
Sua
última obra, foi uma autobiografia (Vida de
Flávio Josefo), que nos revela o nome do adversário ("Justo de Tiberíades", filho de Pistos), ao qual essa obra vem responder e as censuras que lhe faz Josefo. Essa obra é cheia de lacunas, confusa e hipertrofiada. E ela traz sobre a vida de Josefo informações preciosas, que não encontramos em nenhum outro historiador da antiguidade.
Flávio Josefo), que nos revela o nome do adversário ("Justo de Tiberíades", filho de Pistos), ao qual essa obra vem responder e as censuras que lhe faz Josefo. Essa obra é cheia de lacunas, confusa e hipertrofiada. E ela traz sobre a vida de Josefo informações preciosas, que não encontramos em nenhum outro historiador da antiguidade.
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